Segunda-feira, 27 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de janeiro de 2020
O “plano emergencial” de Fernández, segundo analistas, pode representar uma arrecadação extra de US$ 7 bilhões aos cofres públicos este ano. Nos últimos 30 dias, a Bolsa de Buenos Aires subiu 23%.
O ajuste fiscal de Fernández não virá pelo corte de gastos, que é o receituário preferido do mercado, mas sim pelo aumento de impostos sobre transações em dólares e sobre exportações agrícolas. Mas garantirá algum fôlego para o novo governo até março, prazo máximo, segundo especialistas, para que o país obtenha algum acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e outros credores de sua dívida sem ir ao colapso.
– O mercado vinha de uma depressão muito grande. No ano passado as ações chegaram a despencar 60%. Houve uma primeira recuperação porque, basicamente, foram descartados os cenários mais extremos como o de uma hiperinflação ou calote da dívida – avalia Amilcar Collante, do Centro de Estudos Econômicos do Sul, ressaltando, porém, que o horizonte não é nada tranquilo para o país. – Os vencimentos (da dívida externa) do segundo semestre representarão um problema grave para um governo que ainda não apresentou um plano sólido e de longo prazo.
As negociações com o Fundo ainda não começaram formalmente e a expectativa dos mercados e dos analistas é de que se chegue a um entendimento, no máximo, até março. Segundo os cálculos de Collante, o aumento de impostos e um ajuste no valor das aposentadorias e pensões — que já foi anunciado, sem detalhes, por Fernández — pode representar um alívio de US$ 7 bilhões para os cofres públicos. A economia poderia alcançar 1,5% do PIB, de acordo com o economista.
Pressão de impostos
O que ele e outros economistas temem é que as medidas tributárias adotadas por Fernández e, inclusive, algumas ainda em estudo pela província de Buenos Aires, governada pelo kirchnerista Axel Kicillof (ex-ministro da Economia da vice-presidente e ex-chefe de Estado Cristina Kirchner), acabem dificultando a reativação da economia. Kicillof avalia elevar em até 75% os impostos sobre imóveis.
O plano atual pode dar certo, segundo os especialistas, se em breve for selado um acordo com os credores do país e o governo tiver margem para aliviar uma pressão tributária que, para alguns setores, como o campo, é asfixiante. As iniciativas de Kicillof, totalmente respaldadas por Cristina, preocupam a Casa Rosada e geraram tensões dentro do governo.
– O mercado está vendo um ajuste que, como é feito por um governo peronista, busca aumentar impostos e não reduzir despesas. O risco é não conseguir arrecadar o que se espera. No caso do campo, por exemplo, alguns produtores estão diversificando suas atividades para driblar o aumento de imposto sobre as exportações de grãos — assegurou Ivan Sasovsky, analista de mercado e diretor da Sasovsky & Asociados.
Para ele, “se a arrecadação não crescer, o golpe será duro”.
Melhora de ‘rating’
A agência de classificação de risco Standard & Poor’s elevou recentemente o rating de moeda estrangeira de longo prazo da Argentina de SD (default seletivo) para CC. O rebaixamento fora aplicado em dezembro passado quando o governo de Fernández estendeu, unilateralmente, o vencimento de todos os títulos de curto prazo em dólares.
De acordo com a agência, o governo de Fernández “continua a trabalhar em uma estratégia geral de gerenciamento da dívida, embora ainda não tenha anunciado um plano para uma reestruturação imediata”. A taxa de risco da Argentina continua acima de 1.700 pontos básicos, uma das mais altas do mundo.
Na visão do analista Claudio Zuchovicky, gerente de desenvolvimento da Bolsa de Comércio de Buenos Aires, “o governo começou melhor do que se esperava, mas o que estamos vendo é um otimismo de curto prazo”.