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Por Redação O Sul | 20 de novembro de 2017
A eleição presidencial de domingo (19) no Chile, que definiu Sebastián Piñera, de centro-direita, e o senador de centro-esquerda Alejandro Guillier, no segundo turno da disputa, torna iminente algo que há anos não se via na América Latina: a ausência total de presidentes mulheres. Independentemente do vencedor, Michelle Bachelet sairá de cena como a última presidente mulher da região.
A mudança é um revés para a representatividade feminina na América Latina, que dois anos atrás tinha simultaneamente três líderes femininas: Bachelet no Chile (2006-2010 e 2014-2017), Cristina Kirchner na Argentina (2007-2015) e Dilma Rousseff no Brasil (2011-2016). Desde 1974, quando Isabelita Perón foi eleita na Argentina, o continente teve 11 mulheres presidentes, sendo oito eleitas e três interinas.
Especialistas indicam que uma América Latina governada apenas por homens não representa as mulheres da região, que em média são metade da população, e reflete um problema mundial que não é novidade: a desigualdade de gênero na política. O momento coincide com a chegada de novos governos mais conservadores do que os da chamada “onda rosa”, quando candidatos ligados a partidos de centro-esquerda foram eleitos no início dos anos 2000. As posses de Maurício Macri, em 2015, na Argentina, e Pedro Pablo Kuczynski, no ano passado, no Peru, são exemplo disso.
Para a diretora da ONU Mulheres para a América Latina e Caribe, Luiza Carvalho, os partidos da região “têm demonstrado pouca habilidade em fazer apostas em candidaturas de mulheres”. Além disso, segundo explica, a recente tendência eleitoral latino-americana aponta para a escolha de candidatos ligados a uma elite empresarial, outro âmbito em que as mulheres ainda são minoria.
“A trajetória dos líderes na Europa está muito vinculada à sua vida partidária. Há um crescimento dentro do espaço político. O que estamos vendo aqui na América Latina, nessa saída das mulheres e a chegada de homens, é uma vinculação com uma elite empresarial. Normalmente, as mulheres têm dificuldade para serem líderes dentro da sua classe empresarial”, disse.
Mulheres no Chile
Ainda que houvesse duas mulheres competindo nas eleições chilenas – Beatriz Sánchez, do FA (Frente Amplio), de esquerda, e Carolina Goic, do oficialista Partido Democrático Cristiano –, o cientista político e professor da Universidade de Santiago Marcelo Mella diz que só é possível atingir a igualdade de gênero na política com reformas estruturais nos partidos.
“No caso do Chile, os partidos estão estabelecendo códigos de boas práticas no sentido de apoiar uma maior inclusão de representação de mulheres nos cargos de direção e na nomeação de candidatos ao Congresso. Mas a verdade é que ainda há uma grande brecha entre homens e mulheres para que compitam em iguais condições, e isso não vai se resolver até que existam políticas públicas que permitam resolver questões estruturais”, destacou o professor.
Avanço no Legislativo
Apesar da ausência de presidentes mulheres na América Latina, a representação feminina tem avançado nos cargos legislativos. O porcentual de mulheres nos Congressos na América saltou de 20,6% em 2008 para 28,1% em 2017, segundo dados da ONU Mulheres. O índice deste ano está acima da média mundial (23,3%) e perde apenas para a participação feminina no Legislativo dos países nórdicos, que é de 41,7%.