Domingo, 04 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 17 de dezembro de 2022
A mudança brusca na cúpula militar brasileira foi desarticulada. Os atuais comandantes gerais das Forças Armadas desistiram de antecipar a saída do cargo nos próximos dias e vão transmitir os comandos em cerimônias separadas a partir de janeiro, após a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva. A mudança no panorama aconteceu depois de articulação direta do futuro ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.
Os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica indicaram nos bastidores da caserna o desejo de deixar a função antes da hora e chegaram a avisar os superiores – o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, e o presidente Jair Bolsonaro. Mas o cenário mudou.
O gesto foi visto por aliados do petista como uma hostilidade política a Lula. Mesmo entre os militares da ativa e da reserva, houve uma série de conversas para demovê-los da atitude, que poderia fazê-los “entrar para a história” de forma negativa, vistos como politizados e alinhados à opção de Bolsonaro de não facilitar a transição para Lula, não verbalizar o reconhecimento da derrota e tampouco participar das solenidades de posse. Oficiais chegaram a dizer que os comandantes não transmitem o cargo a um rival político, mas a colegas de farda – e, portanto, não haveria motivo para “birra”.
Logo depois de apresentado oficialmente por Lula, Múcio disse que procuraria os comandantes para explicar seus motivos, para ouvi-los e pedir que permanecessem até a posse do petista. Ele afirmou que se engajaria pessoalmente na articulação e que a transição deveria ocorrer dentro das tradições. Depois, foi ao encontro do atual ministro da Defesa para levar o pedido.
Mudanças
A desarticulação da mudança antecipada foi provocada pelo risco de isolamento na Força Aérea. O comandante da Aeronáutica, brigadeiro Baptista Júnior, desmarcou a passagem de comando que já organizava em Brasília para o dia 23 de dezembro. Ele já havia feito convites pessoais a oficiais amigos. A cerimônia foi marcada agora para 2 de janeiro. Os comandantes do Exército, general Freire Gomes, e da Marinha, almirante Almir Garnier, não haviam escolhido uma data nem confirmavam a decisão. Segundo militares da cúpula das Forças, porém, a ideia era uma saída em conjunto.
Baptista Júnior era o único com data fechada para transmitir o comando ao brigadeiro Marcelo Kanitz Damasceno. No fim de semana, ele publicou uma foto de ambos juntos nas redes sociais. Disse que a Força Aérea Brasileira terá como comandante “um líder nato, profundo conhecedor de todos os assuntos e com visão gerencial apurada”. “Minha torcida e apoio serão permanentes”, escreveu Baptista Júnior.
Lula convidou os futuros comandantes selecionados por Múcio para um primeiro encontro ontem. Participaram o general Julio Cesar de Arruda (Exército); o almirante de Esquadra Marcos Sampaio Olsen (Marinha) e o tenente-brigadeiro do ar Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica).
A reunião deveria ter ocorrido na semana passada, mas foi adiada para gestões da equipe de Lula, liderada por Múcio, com a atual cúpula militar de Bolsonaro.
O presidente eleito já disse que as Forças Armadas não devem fazer política, mas se ater a seu papel constitucional de defesa da soberania nacional. Lula também quer acabar o quanto antes com os atos que cobram intervenção militar, na frente dos quartéis. Ele chegou a dizer, em conversas reservadas, que esses acampamentos são desrespeitosos com as próprias Forças.