Quinta-feira, 01 de maio de 2025
Por Lenio Streck | 23 de maio de 2020
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.
Circulou há meses nas redes sociais um belo vídeo de humor feito pelo Grupo Amada Foca, com uma forte sátira a estes tempos difíceis, em que a mediocridade supera a sofisticação e qualquer forma de apuramento intelectual. O título desta Coluna é uma adaptação, uma vez que Pós-verdade é igual à mentira e é igual a anti-intelectualismo.
Trata-se do “comercial” da Universidade da Pós-Verdade. Seu simbolismo vale mais do que cinquenta livros ou cinquenta chibatadas. Transcrevo o texto, para quem não assistiu:
“(Aluno 1) – Pô, ditadura nunca existiu no Brasil. Nunca perguntou para os seus avós? Se não fossem os militares, hoje o Brasil seria uma Cuba, cara!
(Jovem 2 – com bom senso) – Não cara, pelo amor de Deus, isso é mentira!
(Apresentadora do comercial “UNI-PÓS-VERDADE”) – Você já se viu envolvido em uma situação em que queria falar sobre algo que não tinha muita certeza se era verdade, mas queria que fosse verdade mesmo assim? ‘Qualquer coisa pode ser verdade na Uni-PV!”
(Estudante 1 da UNI-PV) – Ei cara, para onde você está indo agora?
(Estudante 2 da UNI-PV) – Para a aula de terraplanismo II
(Entra a Apresentadora da UNI-PV) – Aprenda sem usar livros!!
(Sala de aula – Professor da UNI-PV) – Atenção turma! Alunos aqui por favor. Abram seus smartphones e acessem o WhatsApp no grupo ‘A história na era pós-verídica’ e analisem o meme que acabei de enviar para vocês, em apenas 140 caracteres, alguma pergunta?
(Professor da UNI-PV) – Alunos! Na aula de hoje, iremos aprender como Karl Marx inventou o nazismo, tá certo?
(Entra a Apresentadora da UNI-PV) – E agora, você também pode fazer a sua Pós em Pós-verdade na UNI-PV.
(Mestrando 1 da UNI-PV, Claudio Razão) – Por que eu tenho que acreditar no que os professores, que estudaram a vida inteira, dizem? Ã! Por que acreditar nos ‘cientistas’, na ONU, nos ‘livros’. Cara, a gente tá vivendo o agora, o que importa é o que a gente acredita agora. Por exemplo: agora, eu não acredito no aquecimento global! Você acha que a terra tá mais quente? Eu tô com frio! É empírico! E aqui na UNI-PÓS a gente é incentivado a pensar assim, fora da caixinha. Por nós mesmos.
(Mestrando 2 da UNI-PV) –(…) Hoje em dia, a verdade está na palma das minhas mãos.
(Professor da UNI-PV) – Como já diria o nosso pensador Olavo de Carvalho no seu blog…
(…) (Professor da UNI-PV) – Quem aqui que acredita que o homem foi até a lua pessoal, por favor né!! (…)
O “comercial” da UNIPV Ou UNI-AI diz tudo. Mas tudo, mesmo! Tempos de anti-intelectualismo. Tempos de negação. Ne-ga-ção!
A propósito, sugiro um filme que pode ser acessado facilmente na internet. Chama-se “Negação”. É de 2017, direção de Mick Jackson. Uma professora norte-americana é processada por difamação por um “professor” (ele era autodidata). O tal “professor” nega o holocausto em livros, textos e palestras. A professora faz uma crítica arrasadora. Processada, teve que se defender em um tribunal londrino. Fato verídico. Teve que provar que o holocausto existiu.
Vejam o filme. Bom, ela ganhou. Mas há um diálogo interessante no filme que assusta: e se ela perdesse a causa?
Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
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