Quarta-feira, 22 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de dezembro de 2015
Você frequentaria um bar onde o dono te chama de animal, verme, inseto e avisa que, se for gastar somente 20 reais, pode procurar outro boteco? Pode parecer um absurdo, mas essa é a estratégia de Luiz Capelão, 44, dono do Bar do Capelão, em Viçosa (MG), para atrair e fidelizar sua clientela há 18 anos.
Apesar de o empresário não revelar o faturamento nem o lucro, ele afirma que o bar tem um público cativo – de alunos da Universidade Federal de Viçosa e moradores do entorno – e vive cheio. “Eles entram na brincadeira e começam a me provocar também. Muitos que chegam pela primeira vez querem conferir o que os amigos falaram do bar”, diz Capelão.
A página do bar no Facebook tem mais de 40 mil curtidas. Segundo ele, o número cresce à medida que os xingamentos feitos também na rede social são compartilhados. Ele ainda cria posts que expõem como o bar explora seus clientes com “lucros exorbitantes”. Capelão afirma que nem sempre a estratégia dá certo. “Já teve cliente que não gostou da brincadeira e foi embora antes mesmo de fechar o pedido.” Mas, de acordo com ele, a maioria aprova o seu método de trabalho.
Tratamento muda de acordo com valor do pedido.
O atendimento muda conforme o valor do pedido. Se o cliente escolhe um prato mais barato – porção de batata frita ou espaguete custam 11 reais – é destratado e recebe “punições”. Não pode usar o banheiro novo reformado e não é bem atendido. “Eu falo que se pedir somente isso pode ir embora porque o prato não é bom, que eu mesmo jamais comeria, vai gastar dinheiro à toa.”
Já quem pede algo mais caro – a pizza de picanha tamanho família sai por 54 reais – é tratado com “regalias”, ou seja, pode usar o novo banheiro, não é xingado e recebe seu pedido na mesa – alguns precisam pegar no balcão. Capelão diz, no entanto, que, apesar da brincadeira, todos os pratos são preparados com o mesmo capricho.
Copos.
Entre as peripécias do seu atendimento, o empresário afirma que, em vez de ir até a mesa de alguns clientes para entregar um copo de vidro, por exemplo, ele costuma jogá-lo para pegarem no ar quando o bar está cheio. “Alguns quebram, não tem jeito.” Ele também diz que manda os frequentadores mais antigos fazerem o pedido diretamente na cozinha e parar de “encher a sua paciência”.
“Não tenho garçom para manter o meu atendimento e para não ter de gastar dinheiro com salário. Então, temos de adequar a situação quando o movimento está grande. Os clientes frequentes já sabem disso, entram atrás do balcão para pegar bebidas ou outra coisa que eles querem e fazem seus pedidos na cozinha.”
A ideia de xingar como estratégia de atendimento veio do período em que ele vendia churrasquinho e bebidas nas ruas de Viçosa. “Nunca dei certo na escola, por isso estudei pouco. Com isso, costumava falar muito errado e as pessoas riam de mim. Daí, comecei a rir também e a debochar das pessoas, e vi que todos aceitavam as brincadeiras. Com isso, acabei mantendo esse perfil quando abri meu bar.”