Sábado, 31 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 9 de fevereiro de 2022
A elevação da Selic (taxa básica de juros) para 10,75% ao ano, promovida pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na semana passada, tende a encarecer as taxas dos negócios imobiliários. Especialistas estimam, porém, que não deverá causar estragos na concessão de crédito e nas ações ligadas ao setor negociadas na B3, a Bolsa paulista.
“A tendência é de desacelerar o ritmo do financiamento imobiliário, o que é natural com a subida da taxa, do mesmo modo que a queda gera um estímulo positivo”, diz Pedro Tenório, economista da DATAZAP+.
A Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip) espera desaceleração da expansão dos financiamento. A entidade estima alta de 2% em 2022. No ano passado, período em que a Selic saiu de 2% para 9,25%, a alta dos volumes foi de 46% em relação ao apurado em 2020 (R$ 175 bilhões).
Mesmo crescendo em ritmo menor, o setor atingiria neste ano seu recorde histórico, para R$ 260 bilhões, superando o volume de 2021, de R$ 255 bilhões. “É um volume expressivo diante do cenário de incertezas e aumento dos juros e nos dá conforto de que teremos financiamento à vontade para todo o setor”, afirma José Ramos Rocha Neto, presidente da Abecip.
Essas cifras consideram os financiamentos feitos com recursos do FGTS e os do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), que responde pela maior parcela. Vistas isoladamente, em 2022 as projeções da Abecip são de avanço de 30% (R$ 64 bilhões) no caso do FGTS, e recuo de 5% (R$ 195 bilhões) no SBPE.
Segundo Rocha, em anos passados, quando também vigoravam taxas de crédito de dois dígitos, não houve arrefecimento do volume de financiamento. “Entre 2010 e 2014, a Selic teve trajetória ascendente e, mesmo assim, os volumes continuaram crescendo.”
Embora a Selic não seja a taxa praticada para imóveis, ela influencia os juros cobrados por instituições financeiras. Para Tenório, as taxas de bancos e fintechs, devem ultrapassar a Selic ainda neste ano. Já sobre as taxas da Caixa, que são reguladas, ele evita fazer projeção devido ao fator político mais latente em ano eleitoral.
“É difícil imaginar taxas de mercado abaixo da Selic por muito tempo. O setor já está reajustando e vai continuar”, avalia Tenório. “Do lado regulado, é difícil projetar porque é o segmento que tem a discricionariedade do governo. Se olhar para um horizonte mais longo, vai acompanhando a Selic. Por outro lado, em ano eleitoral conturbado, as taxas praticadas pela Caixa podem andar mais devagar e até cair.”
No dia 19 de janeiro, o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, disse que os juros do banco não vão acompanhar a Selic. “Não estamos precificando mais aumento nos juros do crédito imobiliário; eles já ocorreram em 2021”.
Além disso, as condições de mercado permitiriam manter a estabilidade das taxas. O banco responde por 66% do financiamento habitacional. A Caixa porém, começou a avisar agentes imobiliários que a taxa do crédito do SBPE para a compra de imóveis vai subir neste mês dos atuais 8,3% ao ano para 8,7%, mais TR.
O presidente da Abecip também diz que não há como estimar em quanto os financiamentos podem ficar mais caros nem se os volumes podem cair. Ele frisa que, embora a Selic impacte os juros dos financiamentos, a alta das taxas se dá de forma menos expressiva.
“Continuamos vendo uma forte demanda em 2022, mas, devido ao cenário mais desafiador de conjuntura econômica, a Abecip trabalha com pequeno ajuste no volume de financiamento imobiliário, ainda em patamar elevado, mas podendo ficar até 5% menor que em 2021. Ainda assim, deverá ser o segundo melhor ano da história”, afirma Rocha Neto.
Bolsa
Quando o olhar se volta para as ações ligadas ao setor imobiliário, a alta da Selic tende a ser negativa, pois a compra de imóveis pode ficar mais cara, diz o analista de investimentos Matheus Jaconeli. Ele ressalta que o mercado costuma antecipar eventos, como a subida ou queda de juros, nos preços das ações. Logo, essa alta já estava precificada. Significa que os ativos em Bolsa não devem sofrer grande abalo.
“Veio um fluxo bem grande de investidores estrangeiros para ativos descontados. Por isso o setor imobiliário, em janeiro, foi um dos destaques da Bolsa”, diz Jaconeli. Embora haja muitos lançamentos e a alta do juro básico esteja no preço dos ativos, ele frisa que as perspectivas para o setor não estão boas. “Por mais que a inadimplência não esteja aumentando, a renda e o consumo estão menores. O desemprego diminui, mas as pessoas estão entrando no mercado de trabalho com renda menor que a anterior e isso pode sim afetar as receitas dessas empresas.”