Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 6 de maio de 2025
A informação foi protocolada em um processo no Tribunal de Justiça do Pará.
Foto: Fernando Frazão/Agência BrasilO acordo que manteve Ednaldo Rodrigues na presidência da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), passa por um questionamento. Uma perícia indica que uma das assinaturas é falsa. A partir disso, o Congresso quer convocar o presidente a depor, após tentativas falhas em CPIs.
A análise da perícia é sobre a assinatura de Antônio Carlos Nunes de Lima, o coronel Nunes, ex-vice-presidente da CBF e que foi presidente interino da entidade em duas ocasiões. A inspeção foi feita pela perita Jacqueline Tirotti, a pedido do vereador do Rio Marcos Dias (Podemos).
Foram observados elementos que diferenciam a escrita. “A convicção que se pode depreender de todas as características observadas e considerando todas as limitações intrínsecas ao presente exame é de não identificação do punho periciado de Antônio Carlos Nunes de Lima”, diz o texto.
A entidade afirmou, por meio de nota oficial, que não teve acesso à perícia e que “todos os atos relacionados ao acordo mencionado foram conduzidos dentro da legalidade e com a participação de representantes devidamente legitimados.”
A perícia questiona o fato de o nome ter sido assinado em 19 de janeiro, cinco dias antes da assinatura de fato do acordo, “já conferindo ao procurador poderes específicos para pleitear a homologação judicial de um acordo ainda inexistente à época”.
A análise cita que as assinaturas disponíveis para análise datam de 2015 a 2023, o que, segundo o texto, compromete a contemporaneidade exigida em exames periciais. Entre 2015 e 2017, coronel Nunes assinava de forma simplificada, igual sua rubrica. A partir de 2022, ele passou a assinar com seu nome completo.
Outra informação apontada é que, em junho de 2023, Nunes informou à Justiça um déficit cognitivo a partir de neoplasia cerebral maligna (tumor no cérebro) e cardiopatia grave. Ambas são condições clínicas severas que exigem tratamento contínuo de Nunes desde 2018.
A informação foi protocolada em um processo no Tribunal de Justiça do Pará (TJ-PA). A ação foi movida por Nunes para que o Instituto de Gestão Previdenciária e Proteção Social do Estado do Pará (IGEPPS) deixasse de descontar um valor relativo à pensão alimentícia de sua aposentadoria, já que ele havia reatado o casamento com a mulher, Maria Venina Rosa de Lima.
Essa não é a primeira vez que uma assinatura de Nunes é alvo de polêmica. Em 2021, a mulher do coronel relatou à CBF que Rogério Caboclo pressionou Nunes a assinar uma procuração que concedia ao então presidente o poder de escolher seu substituto caso fosse suspenso. O ex-presidente negou a acusação na época.
O relato de Maria Venina afirmou, na ocasião, que Nunes estava sob efeitos de remédios. O coronel teria assinado a procuração sem conhecer o teor, dois dias antes de passar por uma cirurgia no coração.
Àquela altura, a CBF já era presidida de forma interina por Ednaldo Rodrigues, por indicação do Conselho de Administração, instância formada pelos vice-presidentes. Ele substituiu o próprio coronel Nunes.
Apesar de ter celebrado a indicação de Ednaldo publicamente, Caboclo alegou irregularidade e tentou indicar Nunes como substituto. O coronel, porém, manifestou à CBF que não tinha condições de saúde para assumir e que abria mão da indicação.
Entretanto, dois dias depois, em 6 de novembro de 2021, Nunes assinou a procuração que dava poder de representação a um escritório Lemos Basto Advocacia, indicado por Caboclo.
Também são signatários do acordo a Federação Mineira de Futebol; Castellar Neto, juiz do Tribuna da Fifa; Fernando Sarney, integrante do Comitê Executivo da Fifa; Gustavo Feijó, vice-presidente da CBF; e o ex-presidente Rogério Caboclo.
Nos bastidores, aliados da CBF tentam desqualificar o trabalho da perícia citando casos anteriores realizados pelo escritório do qual Jacqueline Tirotti faz parte e cujos resultados foram considerados polêmicos.
Jacqueline Tirotti informou que a análise foi realizada por meio de uma perícia grafodocumentoscópica, exame em que é verificado suporte, impressão e características de continuidade (grampeamentos, rubricas, marcas, dobras, escritas latentes, entre outras que devem estar presentes em todas as folhas), além de variações naturais do punho.
“Me chamou mais atenção é que só há assinaturas na última folha, são fixadas por um grampo e não apresentam rubricas nas folhas, o que traz uma enorme fragilidade ao documento, que pode ter suas folhas trocadas a qualquer momento. Apesar de constar as discrepâncias quanto às assinaturas, mesmo que fossem consideradas autênticas, o próprio documento é frágil não podendo ser considerado autêntico”, disse a perita.