Quinta-feira, 04 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 14 de setembro de 2022
Aperto da Rússia no fornecimento de gás está começando a atingir setores muito além de serviços públicos e indústrias de uso intensivo de energia
Foto: ReproduçãoA cervejaria belga Huyghe, que fabrica a cerveja Delirium Tremens, está enfrentando um risco real de interromper a produção pela primeira vez em mais de um século, efeito inesperado da crise energética que se alastra pela Europa.
Dos tomates alemães ao pão sueco, o aperto da Rússia no fornecimento de gás está começando a atingir setores muito além de serviços públicos e indústrias de uso intensivo de energia. Os impactos em setores alimentos e bebidas provavelmente se intensificarão à medida que as temperaturas caírem e as residências precisarem de aquecimento, forçando empresas e consumidores a tomar decisões difíceis.
Aumento de custo
A Huyghe, localizada na vila belga de Melle, considerou fechar a produção por causa de um aumento de 13 vezes no preço do dióxido de carbono líquido, que é usado para fazer as famosas cervejas borbulhantes da marca. A esperança da empresa é que a Justiça reduza a expectativa de aumento de seu fornecedor, a Nippon Gases. A decisão deve sair nesta quarta-feira.
-Tenho CO2 suficiente para durar até terça-feira – disse Alain De Laet, proprietário da empresa familiar, por telefone na semana passada, enquanto procurava uma alternativa de última hora. -Talvez eu precise interromper a produção até encontrar um plano B, o que seria a primeira vez desde 1906.
Tentando conter a crise
A União Europeia está tentando conter a crise causada pelos cortes de gás da Rússia, que no ano passado supriu cerca de 40% da demanda do bloco pelo combustível.
A presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, deve propor na quarta-feira uma meta obrigatória para cortar o uso de energia – um passo em direção ao racionamento – juntamente com medidas para canalizar os lucros das empresas de energia para consumidores em dificuldades.
Os problemas da cervejaria belga foram desencadeados por uma cadeia de infortúnios que ilustram como a economia da Europa está interconectada. A gigante norueguesa de fertilizantes Yara International ASA interrompeu a produção de amônia em uma fábrica na Holanda. Isso, por sua vez, atingiu a Nippon Gases, fornecedora da Huyghe, que está cobrando € 3.350 euros (US$ 3.398) a tonelada de CO2 em vez dos € 250 cobrados anteriormente.
“Atualmente, a produção baseada em gás na Europa não é lucrativa. Continuamos monitorando a situação e adaptando nossa produção”, disse Tiffanie Stephani, vice-presidente de relações governamentais europeias da Yara, por e-mail.