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Por Redação O Sul | 1 de fevereiro de 2019
A decisão da Vale de encerrar atividades em dez barragens de Minas Gerais vai ter impacto financeiro para os municípios diretamente envolvidos, mas também em nível estadual e federal.
Um setor gigantesco e tradicional na economia brasileira. Alimenta uma cadeia industrial que emprega mais de 2 milhões de pessoas, em vários Estados. O processo de descomissionamento anunciado pela Vale, para desativar a produção onde há barragens de alteamento a montante – como a que se rompeu em Brumadinho -, deixou em alerta, principalmente, Minas Gerais.
O Estado estima perder R$ 300 milhões em arrecadação. Sesse valor, R$ 79 milhões se referem a royalties pagos como compensação pelo impacto ambiental gerado pela atividade.
O Pará, segundo maior Estado produtor, onde a arrecadação com a atividade mineradora rendeu R$ 295 milhões em 2018, não deve ser atingido pelas mudanças.
O setor de mineração tem peso importante nas exportações de alumínio, cobre, estanho, mas, principalmente, ferro. “É o terceiro o produto mais exportado. Então primeiro o complexo soja, com 17% de participação da balança comercial em 2018; depois vem o petróleo, com 10% de participação; e o minério de ferro vem com 8%”, lista o analista de investimentos Pedro Galdi.
Os principais destinos são China, Japão, Canadá, Países Baixos e Estados Unidos. Nos últimos três anos, a arrecadação com as vendas internacionais passou de pouco mais de 20 para quase 30 bilhões de dólares.
O peso da Vale no mercado mundial do minério de ferro é tão grande que mesmo uma queda de 10% na produção, pela anunciada suspensão de parte das operações em barragens, pode ter o efeito secundário de aumentar do preço do minério pela redução da oferta dele no mundo. O que diminuiria ou até eliminaria prejuízos da empresa. Já outros impactos econômicos serão inevitáveis.
Principalmente na economia local, que gira em torno das minas de barragens que serão desativadas. “Sendo essa atividade a grande geradora de impostos pra prefeitura, pra região, pro município, acaba sendo um uma situação de dependência muito grande. Por exemplo, Mariana, a partir do momento que se parou aquele projeto por causa do acidente, a transferência de impostos pra prefeitura, para o município cessou”, explica Galdi.
José Roberto Mendonça de Barros, ex-conselheiro da Vale, adiciona: “É um grande impacto local, enorme e ruim. Impacto bastante razoável pro Estado de Minas Gerais, pela importância. Uma coisa menor para o Brasil. E um impacto relevante da companhia”.
O economista, que já foi membro do conselho da Vale, diz que a empresa vai ter grandes despesas com indenizações, multas, processos movidos por acionistas. E terá que deslocar a produção, cada vez mais, para Carajás, no Pará, onde a extração do minério é feita a seco.
Segundo ele, o sistema que persistiu até hoje em Minas está definitivamente condenado: “Os projetos de investimento e de atividade econômica têm que ser consistentes com a sustentabilidade ambiental. No mundo de hoje não dá pra escapar disso. E esse exemplo de hoje foi um exemplo trágico, né? Lamentavelmente trágico, de que isso não é mais possível”.