Quarta-feira, 07 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 4 de julho de 2019
O empreiteiro Léo Pinheiro, ex-executivo da construtora OAS, decidiu quebrar o silêncio pela primeira vez desde que foi preso. Em uma carta, a testemunha-chave para a condenação do ex-presidente Lula no caso do triplex de Guarujá (SP) reafirma as acusações que fez contra o petista, diz que todas foram endossadas por provas e rechaça a possibilidade de ter adaptado suas declarações para que seu acordo de delação premiada fosse aceito pela Operação Lava-Jato.
“Afirmo categoricamente que nunca mudei ou criei versão, e nunca fui ameaçado ou pressionado pela Polícia Federal ou Ministério Público Federal”, disse. “A minha opção pela colaboração premiada se deu em meados de 2016, quando estava em liberdade e não preso pela Operação Lava-Jato. Assim, não optei pela delação por pressão das autoridades, mas sim como uma forma de passar a limpo erros”, completou o ex-executivo da OAS.
Léo Pinheiro diz ainda que seu “compromisso com a verdade é irrestrito e total”. Por isso, a elucidação de “fatos ilícitos que eu pratiquei ou que tenha tomado conhecimento é sempre respaldada com provas suficientes e firmes dos acontecimentos. Trata-se de um caminho sem volta”. “Não sou mentiroso nem vítima de coação alguma”, afirmou. “A credibilidade do meu relato deve ser avaliada no contexto de testemunhos e documentos.”
O ex-presidente da OAS decidiu enviar a carta depois de reportagem do jornal Folha de S.Paulo, no último domingo (30), produzida a partir de análise de mensagens obtidas pelo site The Intercept Brasil, ter mostrado que o empreiteiro foi tratado com desconfiança pelos procuradores da Lava-Jato durante quase todo o tempo em que se dispôs a colaborar com as investigações.
As mensagens indicam que Léo Pinheiro, ex-presidente da construtora OAS, só passou a ser considerado merecedor de crédito após mudar diversas vezes sua versão sobre o apartamento de Guarujá que a empresa afirmou ter reformado para o líder petista. As negociações entre os advogados dele e o Ministério Público Federal foram abertas em fevereiro de 2016.
As investigações sobre as relações de Lula com empreiteiras já tinham avançado, e os procuradores dispunham de muitas informações sobre as reformas no apartamento e as obras que a OAS e a Odebrecht tinham executado no sítio que ele frequentava em Atibaia (SP).
Léo Pinheiro já tinha sido condenado por Moro por pagamento de propina a dirigentes da Petrobras. Ele recorria em liberdade, mas temia ser preso se a apelação fosse rejeitada pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), onde os processos de Curitiba são revistos.
As mensagens enviadas por uma fonte anônima ao Intercept e analisadas pela Folha de S.Paulo e pelo site mostram a irritação dos procuradores na primeira fase da negociação da delação, que até hoje não foi homologada pela Justiça.