Quinta-feira, 22 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 22 de maio de 2025
Bolsonaro só aceita indicar um candidato com fidelidade absoluta.
Foto: PR/ArquivoO ritmo célere que o Supremo Tribunal Federal (STF) tem dado ao trâmite do processo que apura uma tentativa de golpe por parte de Jair Bolsonaro e seus aliados e o teor dos primeiros depoimentos colhidos na Corte tornam o futuro do ex-presidente traçado.
A tendência, pelo que se vê até aqui, é de que ele será condenado e preso e que esse desfecho não demore. Por mais que o bolsonarismo esperneie, há uma parte da direita que até torce para isso, de olho em uma decisão mais racional para as eleições de 2026.
Um futuro em que Bolsonaro tenha ao menos reduzida sua influência sobre os destinos da oposição a Lula é considerado fundamental por aqueles que pregam que a escolha deve se dar por alguém que possa agregar o eleitorado de centro e fazer com que a balança penda contra o atual presidente em 2026.
Bolsonaro, porém, só aceita indicar um candidato com fidelidade absoluta. Aquele que, exatamente por causa disso, tenha que abraçar também toda sua rejeição, como bem observou Silvio Cascione no jornal O Estado de S. Paulo.
Até aqui, o ex-presidente atua para controlar a ânsia por um nome de fora da família, mandando recados em entrevistas e nas conversas de que, sem o seu apoio e, mais, com sua oposição, ninguém tem qualquer chance de se lançar a presidente na direita. Ele não está errado, considerando a força eleitoral e a máquina de propaganda que possui nas redes sociais.
É por isso que sua prisão pode ajudar a equilibrar essa balança em favor dos que acham que o caminho de escolher nomes como Michelle, Eduardo ou qualquer outro Bolsonaro não é o ideal. Uma vez preso, o ex-presidente não poderia contrapor publicamente os movimentos em torno de uma unidade por um nome menos vinculado a ele com tanta facilidade. Não poderia gravar vídeos ou ficar reclamando diariamente como faz agora que Michel Temer e outros pregaram uma alternativa que o afaste do processo.
Há também outros dois efeitos políticos para qualquer nome da direita que queira concorrer. O primeiro, a ampliação da pressão para que o ex-presidente renda-se à realidade de que não pode concorrer. Só a inelegibilidade não tem sido suficiente. O segundo, a menor presença de Bolsonaro nas articulações e, consequentemente, na campanha, o que tende a contribuir para reduzir ao menos em parte a rejeição a um candidato de seu campo político.
Para quem quer Tarcísio de Freitas candidato, por exemplo, a prisão de Bolsonaro destravaria uma porta para que o atual governador possa enfim dar passos nessa direção. Até o momento, Tarcísio tem negado reiteradamente que vá concorrer a presidente. Ainda que pareça candidato quando lança um projeto para rivalizar com o Bolsa Família ou quando recebe os afagos do empresariado nas rodas até em Nova York.
Falta um mergulho no Brasil para se tornar conhecido, por exemplo, em vastas regiões do Nordeste. Mas hoje, se o fizer, Tarcísio vai vivenciar o fogo amigo do bolsonarismo, que não quer que seja dado qualquer sinal de que o nome não é o de Bolsonaro. Com o ex-presidente preso, o debate sobre a necessidade de preparar outro nome fica muito mais real.
É claro que, mesmo quando isso acontecer, haverá um duelo na direita, com a família do ex-presidente tentando manter o controle da máquina da oposição e, em consequência, a candidatura. Mas, nem entre eles há mais dúvida de que o futuro de Bolsonaro é a condenação e consequente ordem de prisão. Muito provavelmente, até no máximo novembro deste ano. Talvez antes.
As esperanças de um final diferente já vinham se esvaindo com a resistência da cúpula do Congresso e do STF ao avanço de um projeto de anistia ampla e com a postura da Corte de derrubar a manobra que utilizou Alexandre Ramagem para tentar interromper a ação penal.
Ganhou novo elemento com os depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica. Sobretudo do segundo, que confirmou, sem meias palavras, as reuniões com teor golpista e a tentativa de cooptar as Forças Armadas para impedir a posse do presidente eleito.
Bolsonaro será condenado e preso. Bolsonaristas mais radicais nunca aceitarão. Mas os mais pragmáticos que estiveram com ele por cálculo político podem torcer para que aconteça no melhor momento possível para eles: rápido. O mais longe possível da eleição.
(Ricardo Corrêa/Agência Estado)