Sábado, 25 de maio de 2024
Por Redação O Sul | 15 de maio de 2016
Em novembro do ano passado, quando Michel Temer chamou o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles para uma conversa em seu escritório em São Paulo, Dilma Rousseff era presidenta da República e o risco de impeachment parecia contido.
Segundo o relato que Meirelles fez mais tarde a um assessor, sua volta ao governo não foi discutida nesse dia, mas ele fez questão de apontar ao vice-presidente a falta de unidade no comando da política econômica como um problema urgente a enfrentar.
Alguns dias depois, o ministro Jaques Wagner, braço direito de Dilma no Palácio do Planalto, procurou-o para saber se tinha disposição para assumir o Ministério da Fazenda no lugar de Joaquim Levy, que Dilma queria trocar. Meirelles respondeu que sim, mas repetiu o que dissera antes a Temer sobre a necessidade de sintonia na área econômica. Dilma recebeu o recado, concluiu que Meirelles queria mandar sozinho e desistiu de fazê-lo ministro.
No fim de abril, quando Temer já se preparava para assumir a Presidência, Meirelles foi chamado novamente. Primeira opção de Temer para a Fazenda, o ex-presidente do BC Armínio Fraga indicara que não queria o posto.
Meirelles reafirmou suas condições, e Temer concordou com elas. O acordo foi selado na presença do senador Romero Jucá (PMDB-RR), que já estava definido como novo ministro do Planejamento, e de Gilberto Kassab, chefe do PSD, sigla à qual Meirelles é filiado.
Aos 70 anos, Meirelles volta ao poder como um dos homens fortes do governo Temer, encarregado de administrar um desastre econômico de proporções épicas, com recessão, orçamento no vermelho e inflação elevada.
Temer prometeu a Meirelles que não haverá vozes dissonantes no governo quando o assunto for a economia. O novo ministro da Fazenda terá liberdade para escolher sua equipe e indicar o novo presidente do BC, mas enfrentará limites em outras áreas. Poderá opinar sobre indicações para diretorias dos bancos públicos, mas a palavra final será dos políticos.
A sorte ajudou Meirelles até aqui. Ele deixou o governo assim que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva passou a faixa para Dilma, em 2011, e escapou do vexame que poderia ter sofrido se tivesse voltado a Brasília no fim de 2015, quando a situação da presidente se agravou.
Isso permitiu que chegasse ao novo governo com o prestígio intacto. Meirelles presidiu o Banco Central durante os oito anos do governo Lula, um período em que a economia do país cresceu acima da média e a inflação ficou dentro da meta oficial.
Ele era um estranho no ninho petista. Quando Lula o escolheu para comandar o BC, Meirelles havia se aposentado após uma bem-sucedida carreira como executivo de um banco americano, o antigo BankBoston, e tinha acabado de se eleger deputado federal pelo PSDB de Goiás.
Para Lula, a escolha podia ajudar a vencer a desconfiança que o novo governo despertava nos investidores. Para Meirelles, que temia ficar apagado na Câmara dos Deputados, era a chance de alcançar rapidamente uma posição de grande visibilidade. (Folhapress)