Terça-feira, 21 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 20 de outubro de 2025
Um detento do sistema penitenciário de Goiás defendeu, na manhã dessa segunda-feira (20), uma tese de doutorado de dentro da cadeia. A iniciativa é inédita, segundo a Polícia Penal do estado.
O homem, cujo nome não foi divulgado, apresentou o trabalho on-line, de uma sala no Colégio Estadual Dona Lourdes Estivalete Teixeira, que fica dentro da Penitenciária Coronel Odenir Guimarães (POG), no Complexo Prisional Policial Penal Daniella Cruvinel, em Aparecida de Goiânia.
O trabalho, de caráter interdisciplinar, abrange as áreas de artes visuais, computação e museologia. Graduado em Design Gráfico e mestre em Cultura Visual pela Universidade Federal de Goiás (UFG), o detento iniciou o doutorado em 2020.
Em agosto do ano passado, ele foi preso por crimes sexuais e conseguiu dar continuidade na tese com o apoio da Polícia Penal de Goiás. O trabalho foi apresentado a uma banca da UFG.
Segundo a Polícia Penal, o homem estuda na unidade prisional e também desempenha atividades laborais. A legislação brasileira permite que, a cada três dias de trabalho ou estudo, o detento possa remir um dia da pena.
A defesa da tese abre uma série de questionamentos e reflexões
– Ressocialização vs. punição: quais são os limites e desafios de oferecer educação superior dentro de presídios?
– Igualdade de oportunidades: como garantir que pessoas privadas de liberdade tenham acesso qualificado à academia, sem exceção?
– Impacto social: em que medida e iniciativas como essa podem contribuir para reduzir reincidência e preparar o recluso para uma vida diferente após a soltura?
Embora os presídios brasileiros sejam majoritariamente associados à punição, o direito à educação é constitucionalmente garantido — e essa defesa pública de doutorado marca um momento em que esse princípio é colocado em prática, mesmo que dentro das limitações de uma prisão.
A iniciativa também coloca em evidência o papel da aprendizagem formal e das oportunidades acadêmicas como ferramentas de reforma e reinserção social. A defesa de tese será realizada dentro de um complexo prisional em Goiás, em ambiente controlado — medida necessária para garantir segurança, conforme suas circunstâncias.
A expectativa é de que após a defesa, sejam divulgados os detalhes da tese — tema, orientador, banca examinadora — para que se entenda a dimensão acadêmica do feito. Assim, pesquisadores, órgãos de execução penal e movimentos sociais poderão avaliar o modelo. (Com informações do portal O Globo)