Quarta-feira, 02 de abril de 2025
Por Redação O Sul | 12 de junho de 2024
Há exatamente dez anos, Brasil e Croácia faziam a bola rolar para o início da Copa do Mundo no Brasil, a segunda edição na história a ser realizada no País. O palco era a recém-inaugurada Arena de Itaquera, hoje Neo Química Arena, estádio do Corinthians. A estrutura na Zona Leste de São Paulo foi um dos sete estádios construídos do zero ou reconstruídos para a competição. Inaugurou a “era das arenas” no futebol brasileiro.
Além do estádio paulista, foram erguidos Mané Garrincha, Arena Fonte Nova, Arena Pernambuco, Arena Pantanal, Arena das Dunas e Arena da Amazônia. Reformados, Maracanã, Mineirão, Castelão, Beira-Rio e Ligga Arena completam a lista de 12 sedes daquele Mundial.
O desafio posterior foi manter de pé e operantes estádios de alta capacidade, tecnologia e, principalmente, custos. Levantamento do site Bolavip aponta, por exemplo, que uma partida no Mané Garrincha ainda “custa” mais de R$ 10 milhões, divididos o custo de construção pelo número de jogos em 10 anos.
Embora os estádios de “times únicos” tenham se adaptado com mais tranquilidade, palcos “coletivos” como o Maracanã e Mineirão, viraram alvos de disputa. No primeiro, um consórcio formado por Flamengo e Fluminense venceu, no último mês, a licitação da concessão do estádio pelos próximos 20 anos.
A dupla, que administrava provisoriamente desde 2019, após rompimento do Estado do Rio com a Odebrecht, utiliza o estádio como casa no Brasileirão e demais competições. O Vasco, concorrente na licitação, também atua lá, muitas vezes recorrendo à Justiça. Entre idas e vindas, o Maracanã foi a estrutura da Copa mais utilizada até aqui.
Os problemas com a concessionária também marcaram a relação do Cruzeiro com o Mineirão. No ano passado, o time mineiro chegou a romper com a Minas Arena, com o ex-gestor da SAF Ronaldo criticando as “boas negociações para eles e nunca boas para nós”.
A relação melhorou. Agora como único usuário frequente do Mineirão — O Atlético inaugurou sua Arena MRV no ano passado —, o Cruzeiro divide espaço com shows e eventos, um modelo de negócios que se espalha pelas administradoras de arenas pelo país.
Eventos e shows
Os eventos têm sido a solução para arenas com baixa oferta de jogos locais. O Mané Garrincha, estádio menos utilizado em campo no ano passado, soma quase 40 shows e festivais nacionais e internacionais desde que foi reconstruído.
Com os representantes do Distrito Federal (Brasiliense e Real Brasília) disputando a Série D em 2024, a estrutura administrada pela Arena BSB — que disputou a concessão do Maracanã — iniciou o ano sendo palco de partidas dos campeonatos Carioca, Paulista e da Copa do Brasil.
A “importação” de mandos também acontece na Arena da Amazônia, onde a seleção brasileira mais atuou desde o Mundial, e na Arena das Dunas. O estádio potiguar foi uma das obras mais polêmicas do torneio, alvo de ações do Ministério Público que, entre outras, terminaram em condenações por superfaturamento e contratação sem licitações em projetos complementares, no ano passado. Este ano, o equipamento recebeu Portuguesa x Flamengo, pelo Carioca, e jogos do América-RN na Série D.
Sinergia no crescimento
Nesses dez anos, clubes locais cresceram após a inauguração das arenas. O Cuiabá, por exemplo, disputou quatro edições da Série A e hoje faz da Arena Pantanal sua casa. Por lá, já atuou até em competição internacional, a Copa Sul-Americana.
“O clube paga somente o aluguel, que é de 2% da renda bruta. Fizemos várias pequenas manutenções desde que passamos a utilizar. A troca do gramado foi uma das maiores”, explica o presidente Cristiano Dresch.
O mesmo aconteceu no Castelão, que viu Fortaleza e Ceará crescerem em termos nacionais e ocuparem o estádio semanalmente. Hoje, as equipes disputam as séries A e B, respectivamente, e mantêm acordo de aluguel e operação a cada partida que lá realizam.
Logística
Dez anos depois, a logística ainda segue como desafio de um estádio em específico: a Arena Pernambuco. Localizado em São Lourenço da Mata, a 13 quilômetros de Recife, o equipamento é alvo de queixas pelas dificuldades de transporte e acabou preterido ao longo dos anos. A Cidade da Copa, bairro que seria construído ao redor do estádio, nunca saiu do papel.
O Náutico, que chegou a deixar os Aflitos para fazer da nova estrutura sua casa, acabou voltando em 2018, em meio a alegados problemas com repasses e contrato, além de pedidos da torcida e de conselheiros.
Este ano, a arena, que também investe em eventos, virou casa temporária do Sport, que faz obras na Ilha do Retiro. O Leão não faz planos de permanecer no estádio, mas diz que pode utilizar o equipamento de forma pontual posteriormente.