Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 20 de junho de 2020
A queda para cima do ex-ministro Abraham Weintraub rumo ao Banco Mundial com salário mensal de R$ 115,9 mil deixou “chocados” integrantes e ex-integrantes da instituição, segundo o Estadão. Para alguns deles ouvidos pela reportagem, o Brasil pode virar “piada internacional” pelo fato de o economista ter perfil excessivamente ideológico, a começar pelos insultos recentes à China e críticas ao multilateralismo.
Um primeiro movimento contra a indicação do presidente Jair Bolsonaro de Weintraub à cadeira da diretoria executiva liderada pelo Brasil, a qual representa Colômbia, Equador, Trinidad e Tobago, Filipinas, Suriname, Haiti, República Dominicana e Panamá, veio de um grupo de economistas, empresários e intelectuais brasileiros. Eles enviaram uma carta ao banco e aos embaixadores dos países representados na diretoria para que não aceitem Weintraub entre suas fileiras, segundo o colunista Leonardo Sakamoto, do UOL.
Apesar de a indicação ainda ter que ser aprovada por outros países, a avaliação é de que se trata de um procedimento protocolar e que não haveria chances dela ser rejeitada, já que o Brasil tem mais de 50% de poder de voto e também porque não seria usual. O mandato na diretoria do conselho administrativo do banco vence em outubro, com renovação quase que imediata.
ntegrantes e ex-integrantes do Banco Mundial ouvidos em caráter reservado pelo Estadão disseram estar “chocados” com a indicação do ministro demissionário da Educação, Abraham Weintraub, para diretor-executivo da instituição. Na avaliação de fontes ouvidas pela reportagem, ao colocar no cargo uma pessoa que já deu declarações contrárias ao multilateralismo, o Brasil pode virar “piada internacional”.
Ao menos em termos financeiros, a troca de cargo significa um salto para o ex-ministro. De acordo com documento do Banco Mundial, a remuneração dos diretores-executivos do órgão foi de US$ 21.547 mensais, o que equivale a cerca de R$ 115, 9 mil por mês. Como ministro, seu salário era de R$ 31 mil mensais, ou seja, Weintraub vai ganhar quase quatro vezes mais.
Com a escolha de seu nome sob questionamentos, a nota da Economia tenta destacar a experiência profissional de Weintraub. “Com mais de 20 anos de atuação como executivo no mercado financeiro, Weintraub foi economista-chefe e diretor do Banco Votorantim, além de CEO da Votorantim Corretora no Brasil e da Votorantim Securities no Estados Unidos e na Inglaterra”, afirma o texto.
Mais cedo, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, ironizou a indicação. “Não sabem que ele (Weintraub) trabalhou no Banco Votorantim, que quebrou em 2009. Ele era um dos economistas do banco”, disse Maia.
Um ex-integrante do alto escalão do Banco Mundial, que pediu para não ser identificado, ressaltou que, na diretoria, Weintraub terá que se adaptar ao código de ética do organismo, que proíbe declarações sobre a política dos países membros. Não seriam permitidas, por exemplos, publicações polêmicas em redes sociais, como a que Weintraub fez, ao ironizar os chineses e a pandemia do coronavírus.
Apesar de a indicação ainda ter que ser aprovada por outros países, a avaliação é que se trata de um procedimento pro-forma e que não haveria chances de a indicação ser rejeitada, já que o Brasil tem mais de 50% de poder de voto.
O Banco Mundial é uma instituição internacional que financia projetos em países em desenvolvimento. O órgão tem 186 países membros. Na prática, a escolha não pode trazer sanções para o Brasil, mas tem potencial de prejudicar a agenda brasileira no banco. Se bater de frente com a diretoria, Weintraub pode ser isolado e não conseguir levar para frente projetos de interesse do governo.