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Mundo Dizem que somos a nova Venezuela: brasileiros contam como sobrevivem à pior crise da história do Líbano

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O Líbano vive a pior crise econômica de sua história.

Foto: Mohammad Ghannam/MSF
(Foto: Mohammad Ghannam/MSF)

Trágica situação indigna a população, que volta a ocupar as ruas das principais cidades, em plena pandemia de covid, para protestar contra um governo incapaz de encontrar saída para os problemas.

Escassez de alimentos, medicamentos, combustíveis, energia elétrica, queda do poder aquisitivo, desvalorização da moeda nacional diante do dólar. O Líbano vive a pior crise econômica de sua história.

A trágica situação indigna a população, que volta a ocupar as ruas das principais cidades, em plena pandemia de covid, para protestar contra um governo incapaz de encontrar saída para os problemas.

O estudante de jornalismo Jad El Hattouni não mede as palavras para descrever a situação no Líbano: “tem coisas graves e tem coisas gravíssimas acontecendo aqui”. O jovem líbano-brasileiro que vive na capital Beirute lembra que a crise começou no final de 2019, devido a impostos que o governo determinou sobre combustíveis, tabaco e a telefonia online.

Rapidamente, a insatisfação tomou o país e grandes protestos foram realizados ao longo de meses. A mobilização só foi pausada no início de 2020 devido à pandemia de covid.

A explosão no porto de Beirute, em 4 de agosto de 2020, agravou a situação do país e a revolta dos libaneses com uma velha classe política marcada pela corrupção e pela inação. A crise econômica, política e social parecia ter atingido o ápice após a tragédia que deixou mais de 200 mortos.

Desde então, o presidente do Líbano, Michel Aoun, e o primeiro-ministro interino do Líbano, Hassan Diab, continuam penando para tentar compor um governo, enquanto o gabinete demissionário do premiê designado Saad Hariri segue responsável pelo país.

“Falta comida, remédios, gasolina e diesel, energia elétrica, dinheiro. Estamos divididos entre quem tem dólar e quem não tem. Quem tem dólar ainda consegue viver, mas é muito difícil pra quem não tem. As pessoas estão esperando que os turistas venham para o Líbano para trazer dinheiro e aliviar a crise. Mas como os turistas vão vir pra cá diante de todas essas dificuldades, se não tem nem transporte, nem gasolina para eles poderem passear?”, questiona Jad.

O que o estudante de jornalismo relata faz parte da vida cotidiana dos libaneses, que enfrentam a falta de produtos e alimentos básicos nos supermercados, prateleiras vazias nas farmácias, racionamento de combustíveis – com filas quilométricas nos postos para abastecer os veículos – além de cortes diários de energia elétrica.

No último sábado (26), quando a lira libanesa atingiu seu nível mais baixo em relação ao dólar, manifestantes invadiram as ruas da capital Beirute e de outras cidades para protestar. Novas manifestações ocorreram na quarta-feira (30) em Tripoli, no noroeste do país.

A dolarização forçada da economia do Líbano impulsiona a inflação. Atualmente US$ 1 está valendo 1.512 liras libanesas, mas, no mercado negro, pode chegar a custar 17 mil liras libanesas.

No ano passado, quando o país anunciou o primeiro calote do pagamento da dívida pública, o Produto Interno Bruto (PIB) teve uma queda de 20% e a lira libanesa perdeu 85% de seu valor. O poder aquisitivo despencou, enquanto o preço de produtos básicos continua a aumentar de forma vertiginosa.

Com a crise, metade da população passou para baixo da linha da pobreza – uma situação inimaginável há alguns anos nesta que já foi uma das nações mais prósperas do Oriente Médio.

Os libaneses estão cientes que as perspectivas para o futuro não são otimistas. Segundo um relatório recente do Banco Mundial, a economia libanesa deve se reduzir cerca de 10% neste ano.

Colapso político do Líbano

Para Murilo Sebe Bon Meihy, professor de história contemporânea da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e especialista em Oriente Médio, o colapso político é o responsável pela situação do país.

“Desde o fim da guerra civil no Líbano, nos anos 1990, esse sistema político não atende às demandas mínimas da sociedade civil. Ao contrário, estabelece um sistema de rodízio de oligarquias que utilizam o Estado para o enriquecimento próprio. Mesmo antes da crise, não havia fornecimento de energia elétrica estável ou oferta de água potável, ou seja, é um Estado que não consegue estabelecer minimamente as condições ideais para a maioria da população”, explica.

O professor enumera ainda fatores exteriores que contribuíram para a piora da situação no país, como o conflito israelo-palestino e a guerra na Síria, que resultaram na chegada de dois milhões de refugiados em um país de cerca de 6,9 milhões de habitantes.

“Os refugiados não têm um status de cidadania que permita a eles ter empregos formais. Nesse momento em que metade da população está vivendo abaixo da linha da pobreza e um quarto dos libaneses enfrenta uma situação de miséria, as coisas ficaram mais difíceis”, reitera.

Além de ineficaz, a classe política libanesa não se desvencilha da corrupção, deixando o povo refém de grupos que se perpetuam no poder há décadas. A complexidade da divisão de cargos políticos entre vários grupos religiosos também prejudica a articulação e a renovação dos governos.

Desde o fim da guerra civil, acordos estabeleceram que o presidente deve ser cristão maronita, o primeiro-ministro, muçulmano sunita, o presidente do parlamento, muçulmano xiita – um frágil equilíbrio traduzido na inação dos últimos governos.

 

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