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Por Redação O Sul | 13 de janeiro de 2018
O número de polos de ensino a distância no País aumentou quase 90% nos seis primeiros meses de vigência das novas regras do governo para abertura dessas unidades, usadas para realização de provas e aulas. O MEC (Ministério da Educação) publicou decreto flexibilizando as normas em junho do ano passado. Na época, havia 7,1 mil polos cadastrados. Em dezembro, esse número quase dobrou para 13,2 mil.
O crescimento acelerado levanta questionamentos sobre a qualidade do ensino a distância, uma vez que muitas faculdades estão entrando nesse mercado sem ter experiência e com pouco investimento. Há instituições de ensino que cobram R$ 49 pela primeira mensalidade ou matrícula de cursos a distância. “Até o mercado se ajustar, algo que deve durar de três a quatro anos, haverá, sim, um impacto negativo na qualidade do ensino. É muito difícil oferecer cursos de qualidade com mensalidades tão baixas”, diz Ryon Braga, sócio da Atmã Educar, consultoria especializada em ensino híbrido, que mescla aulas presenciais e on-line, e conselheiro da Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância).
Atualmente, o desempenho acadêmico dos alunos de cursos a distância, em geral, já é inferior. No último Enade, avaliação que mensura o desempenho dos estudantes que estão se formando, a nota dos alunos do curso de serviço social presencial foi 67% superior ao da graduação a distância. “A tendência é que nos próximos dois ciclos do Enade essa situação se mantenha devido à expansão exagerada de polos. O desempenho dos alunos dos cursos a distância já foi melhor há alguns anos, mas isso foi virando com o crescimento desse setor”, disse Adriano Coelho, consultor da Hoper Educação.
Com a maior concorrência, a expectativa é que o valor médio das mensalidades de cursos on-line, que hoje é de R$ 250, caia cerca de 40% neste ano, segundo a Atmã. Para se obter um aprendizado on-line efetivo é preciso investir em material didático adaptado, tecnologia e polos bem administrados para evitar a evasão de alunos. Na graduação a distância, em média, só 30% dos alunos concluem o curso, contra 50% no presencial.
Luiz Trivellato, presidente da consultoria Educa Insights, alerta que muitos polos podem estar sendo abertos só para atrair alunos de determinadas praças, mas podem fechar as portas caso não haja demanda, comprometendo novamente a imagem desse segmento. Em 2008, o MEC fechou 1,3 mil polos por falta de infraestrutura e má qualidade dos cursos. Somente em 2011, o MEC retomou a abertura de novas unidades on-line.
Segundo o jornal Valor Econômico, o MEC informou que não há risco de queda de qualidade e que os cursos a distância são avaliados pelos mesmos critérios dos presenciais. “Além da estrutura exigida na sede da instituição, que deverá atender a todos os estudantes matriculados, a infraestrutura física, tecnológica e de pessoal desejável para um polo de EAD também será avaliada, de forma a garantir que a IES [instituição de ensino] mantenha estrutura adequada aos cursos ofertados e para o atendimento do quantitativo de estudantes na proporção das vagas autorizadas no processo de autorização e, posteriormente, nos reconhecimentos de cursos.” Assim como no modelo convencional, a graduação on-line com conceito inferior a 3 (de uma escala de 1 a 5) também sofre sanções, como restrição de abertura de vagas e cursos.
Antes do decreto, o MEC só autorizava uma faculdade a atuar em ensino a distância após funcionários do ministério terem vistoriado pessoalmente todos os polos dessa instituição, o que levava em média dois anos. Agora, o MEC faz visitas ‘in loco’ às sedes das instituições e aquelas com conceitos entre 3 e 5 podem abrir de 50 a 250 polos por ano. “Grande parte das instituições de ensino superior cadastrou seus limites máximos anuais antes da virada do ano para não perder os quantitativos de polos que podem ter em 2017”, informou o MEC. Mas, nem todos os novos polos cadastrados já estão operando.