Terça-feira, 14 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 13 de outubro de 2025
Ela tentava a aposentadoria desde 1985, quando tinha 62 anos.
Foto: ReproduçãoAos 101 anos, Celeste Lucas da Silva, que se aposentou após quatro décadas de luta, mantém uma lucidez e memória de dar inveja a muitos jovens. No dia a dia, a centenária que vive em Boa Vista (RR) dorme e acorda cedo, faz caminhadas, cuida da alimentação – embora permita alguns excessos – e dedica atenção à pele.
Vovó Celeste, como também é chamada por amigos e a família, se aposentou em março de 2025. Ela tentava a aposentadoria desde 1985, quando tinha 62 anos.
Celeste nasceu em 15 de novembro de 1923, no município de Bonfim, no Norte de Roraima. Vinda de uma família simples, cresceu na roça e criou os 15 filhos trabalhando no campo.
“Eu não estudei porque o meu pai nunca me botou para estudar. Ele deixou a minha mãe e aí ficou nós duas […] Para onde ela ia, eu ia com ela. Ela trabalhava assim por fora, fazia farinha, e eu com ela [trabalhando]”, lembrou.
A filha, Elizabeth da Silva Figueiredo, de 64 anos, afirma que a rotina simples e disciplinada da mãe faz diferença na qualidade de vida. Celeste ainda arruma a própria cama e participa de tarefas leves, como descascar feijões — que a filha compra com vagem só para manter a atividade. A centenária evita apenas cozinhar para não se ferir.
Alimentação saudável
A alimentação é baseada em produtos naturais, como frutas frescas e sucos. De vez em quando, ela come doces ou salgados, como pirulitos, rapadura, sorvetes e bolos, mas sempre com moderação.
“Ela gosta de olhar o quintal da casa, gosta de dobrar o lençol que usa para dormir, gosta de rapadura e muito de mel de cana [de açúcar], gosta de pirulito, salgadinho, picolé, sorvete, bolo, salgado, gosta de leite de vaca, coalhada, gosta de todo tipo de coisa”, contou Elizabeth.
A hidratação também é crucial. Celeste tem sempre uma garrafinha de água ao lado e usa hidrantes corporais para proteger a pele do sol.
Atividades físicas adaptadas, como caminhada, são obrigatórias na rotina dela. Celeste caminha todos os dias pelo quintal da casa onde mora. Com mobilidade reduzida, usa bengala e conta com a ajuda da filha.
As visitas ao médico também são parte essencial de sua vida. Além das consultas em dia, Celeste faz uso de medicamentos e suplementos que garantem mais qualidade de vida, mas não é tão dependente deles.
“É muito importantes ter esses cuidados. Vejo que vai muito dos cuidados que a gente tem que ter com as pessoas. Tenho muito cuidado com a pele dela, alimentação”, contou a filha.
A luta pela aposentadoria
Celeste tentou se aposentar cinco vezes antes de ter o benefício reconhecido. A primeira tentativa foi feita em 1985, quando tinha 62 anos, após a morte do marido. Na época, a legislação só permitia a aposentadoria rural para um membro da família, geralmente o homem, e o marido dela já recebia o benefício. Com isso, Celeste passou a receber uma pensão pela morte dele.
Anos depois, uma das filhas tentou um novo pedido no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), mas a falta de documentos dificultou o processo.
Somente em dezembro de 2020, aos 97 anos, a idosa voltou a buscar o direito, desta vez com auxílio do advogado Rhichard Magalhães, de 33 anos, marido de uma das netas dela. Em 2023, a Justiça reconheceu o tempo de contribuição da idosa, mas negou o pedido por ela não morar mais na zona rural. O direito só foi concedido em março de 2025, após nova ação judicial.