Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 2 de novembro de 2020
A disputa pela Casa Branca entre o republicano Donald Trump e o democrata Joe Biden será a eleição americana mais importante das últimas décadas. Cientistas políticos, eleitores e os próprios candidatos afirmam que o resultado da votação, que termina nesta terça-feira (3), trará consequências mais definidoras para o futuro dos Estados Unidos do que todas as disputas anteriores dos últimos 60 anos.
“Esta é certamente a eleição mais importante dos EUA em tempos recentes, porque ela não diz respeito tanto a pessoas quanto a sistemas. Os americanos estão escolhendo entre o Estado de Direito e o desmando de um homem, entre democracia e autoritarismo”, disse Timothy Snyder, professor de História na Universidade Yale.
O autor dos best-sellers “Na contramão da liberdade” e “Sobre a tirania” acredita que, se Trump perder, tentará ficar no poder, e isso é “território novo para os americanos”:
“Esta eleição será um teste para os americanos porque ela será provavelmente apenas o começo e não o fim de uma disputa por poder.”
Risco à estabilidade global
A análise de que estas eleições marcam um momento crítico na História americana é compartilhada por Alan Abramowitz, especialista em eleições da Universidade Emory. Para ele, o pleito terá um impacto excepcional no sistema democrático da maior economia do mundo:
“Esta é a eleição mais importante dos últimos 60 anos com certeza.”
O cientista político Ian Bremmer afirma que esta eleição é a mais importante dos últimos 150 anos, mas acredita que a principal razão disso tem menos a ver com o futuro da democracia do que com temas conjunturais, como a pandemia da covid-19.
“Esta é certamente a eleição mais importante de nossas vidas”, diz o presidente da consultoria de risco político Eurasia, que acredita que as eleições de 1876 tiveram impacto profundo por terem dado início ao processo de segregação do Sul dos Estados Unidos.
As diferentes abordagens em relação à pandemia — Bremmer acredita que Biden imporia a obrigatoriedade de máscaras nacionalmente e negociaria um pacote de ajuda financeira maior do que o republicano — já significariam que a eleição será mais definidora do futuro do país do que disputas anteriores.
A legitimidade das eleições também deve ser contestada por boa parte dos eleitores, independentemente de quem ganhe. Em Washington, edifícios já instalam tapumes para proteção caso ocorram protestos. Isso também traz caráter inédito à disputa atual.
“As pessoas acham que vão roubar as eleições. Estão planejando ter observadores informais, podemos ver violência, instabilidade social, Trump pode não entregar o poder, Trump pode contestar as eleições. O próprio processo eleitoral é incerto neste ambiente”, afirmou Bremmer.
Em janeiro deste ano, a Eurasia classificou as eleições nos EUA como o maior risco à estabilidade mundial:
“Nunca tivemos um risco interno nos EUA como o número um em 23 anos da empresa. Isso já é bastante”, disse Bremmer, lamentando que o sistema político americano tenha deixado de ser uma inspiração para o mundo.
O declínio da confiança nas instituições americanas foi posto no centro das discussões sobre a excepcionalidade das eleições deste ano. Bremmer concorda que houve erosão das instituições nacionais, incluindo da mídia, da burocracia estatal e do Legislativo, que teriam ficado mais corruptas e menos transparentes. Ainda assim, o analista diz que situar a disputa em termos de sobrevivência da democracia nos EUA é um exagero.
“Não gosto quando escrevem que este pode ser o fim da democracia americana, que podemos nos tornar uma república de bananas, que haverá violência por todo o país, que estamos perto do autoritarismo, que tudo entrará em colapso. Nada disso é verdade.”