Sexta-feira, 29 de março de 2024

Porto Alegre

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Mundo Dúvidas rondam a autenticidade da obra de arte mais cara da história

Compartilhe esta notícia:

Supostamente pintada em 1500, a tela nem sempre foi atribuída a Leonardo Da Vinci. (Foto: Reprodução)

O burburinho cessou quando a imagem do lote 9-B surgiu no telão no mais aguardado leilão da temporada internacional deste ano. Diante do quadro que entraria para a história como o mais caro já vendido em todos os tempos, uma plateia de colecionadores em Nova York (Estados Unidos) segurou a respiração. Menos de 20 minutos depois, a única obra de Leonardo Da Vinci pertencente a um acervo privado seria arrematada por mais de US$ 450 milhões, cerca de R$ 1,5 bilhão.

Os cifrões ofuscam qualquer traço de beleza da obra e todo o seu passado conturbado, que inclui restaurações problemáticas (responsáveis por arranhões no rosto e nos cabelos da figura retratada) e também muitas dúvidas que rondam a sua autoria. Isso porque essa tela supostamente pintada em 1500 nem sempre foi atribuída ao gênio italiano. Ela esteve na coleção do rei Carlos 1º da Inglaterra não se sabe com qual “etiqueta”, até ser leiloada no século de 1700 e sumir por um tempo.

“Salvator Mundi”, um retrato de Cristo segurando uma esfera de cristal, reapareceu tempos depois. No final da década de 1950, foi vendido por cerca de R$ 33 mil, um valor praticamente irrisório se comparado à montanha de dinheiro pela qual foi arrematado na semana passada.

O negócio representou uma espécie de vingança para o bilionário russo Dmitry Rybolovlev. Há quatro anos, ele pagou US$ 127 milhões por essa mesma obra mas descobriu que, meses antes, o marchand que ofertava a peça havia desembolsado US$ 80 milhões por ela, o que motivou um processo que ainda corre na Justiça.

Enquanto os advogados brigavam, a tradicional casa Christie’s de leilões prometera a Rybolovlev que venderia o seu Da Vinci por pelo menos US$ 100 milhões, mesmo com danos e dúvidas sobre sua autenticidade. Feito o acordo, o passo seguinte foi uma campanha publicitária sem precedentes no mundo das artes visuais.

O quadro foi chamado de “Cálice Sagrado” e comparado à “descoberta de um novo planeta”, inaugurando talvez uma nova era sem limites das vendas “blockbuster” no mundo cultural. Não faltou nem mesmo uma ambiciosa turnê de lançamento, por meio da qual o “Salvator Mundi” chegou a ser visto por quase 30 mil pessoas em Hong Kong, Londres e San Francisco, antes de sua chegada triunfal A Nova York.

Mas um detalhe contrasta com o gigantismo e a pompa em torno dessa venda. Na letra miúda do contrato, a Christie’s deu um prazo de cinco anos de vencimento para a autenticidade da obra. Ou seja: se a autoria vier a ser questionada depois desse tempo, o caso não poderá ser levado a juízo.

O mecanismo é praxe no mercado de arte, mas acaba revestindo essa vistosa transação com um aspecto de bomba-relógio. Seu comprador (que permanece sob anonimato) corre o risco de ver R$ 1,5 bilhão murchar para uns trocados em pouquíssimo tempo, ostentando em sua casa o mico mais embaraçoso da história.

Não foi por acaso, aliás, que a Christie’s enfiou essa tela em seu leilão de arte contemporânea. Valores nesse patamar não costumam ser pagos por arte antiga, e a onde em torno das vendas de obras deste século é sempre maior, além de elas correrem longe dos olhos de especialistas em arte renascentista.

Tanto que na plateia da Christie’s, no famoso edifício Rockefeller Center, não havia acadêmicos. Tratava-se, acima de tudo, de uma questão de dinheiro. Todo o “PIB” da arte mundial parecia concentrado ali, entre os VIPs, como os maiores galeristas do mundo, Larry Gagosian e David Zwirner, além de colecionadores graúdos como Eli Broad, que tem o seu próprio museu em Los Angeles.

Nenhum deles parecia se preocupar com os pontos de interrogação no ar nem com a estranheza desengonçada desse quadro, imaginando talvez como serão as vendas de arte num futuro agora inflacionado por essa venda. Mesmo não especialistas e não bilionários, no entanto, seriam capazes de notar que o “Salvator Mundi” é um trabalho menor do mestre italiano, se é que é mesmo um Da Vinci e não uma pintura de um de seus vários discípulos.

O seu Cristo visto de frente, quase um retrato policial, não tem a graça nem a complexidade de obras como seu “São João Batista” ou a “Mona Lisa”, o que torna um exagero infeliz a comparação dos que apelidaram o “Salvator Mundi” de “Gioconda homem”.

Há momentos marcantes no quadro, como a coloração azul do manto, a delicadeza no contorno dos olhos e a transparência da esfera de cristal na mão de seu Cristo. Mas a relação fundo e figura tem um aspecto um tanto desconjuntado. No lugar da leveza enigmática das obras mais conhecidas de Leonardo Da Vinci, em que a pele de suas figuras e a paisagem ao redor se roçam numa espécie de sopro, o quadro mais caro da história parece sucumbir sob o seu próprio peso de milhões e milhões de dólares.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Mundo

Soldados da Alemanha de Hitler lutavam sob o efeito de drogas
Brasileiros continuam sendo os estrangeiros que mais procuram por imóveis em Miami
https://www.osul.com.br/duvidas-rondam-autenticidade-da-obra-de-arte-mais-cara-da-historia/ Dúvidas rondam a autenticidade da obra de arte mais cara da história 2017-11-18
Deixe seu comentário
Pode te interessar