Sexta-feira, 29 de março de 2024

Porto Alegre

CADASTRE-SE E RECEBA NOSSA NEWSLETTER

Receba gratuitamente as principais notícias do dia no seu E-mail ou WhatsApp.
cadastre-se aqui

RECEBA NOSSA NEWSLETTER
GRATUITAMENTE

cadastre-se aqui

Colunistas E ACONTECEU!!!

Compartilhe esta notícia:

Congresso (Foto: Sérgio Lima/Folhapress)

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul. O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Éramos, no início, 17 deputados e seis senadores. Talvez uma sexta parte – se tanto – da bancada do PDS. Tínhamos um acordo, senão secreto, não divulgado. Se Maluf ganhasse a Convenção partidária – o que era praticamente certo com sua infinita capacidade corruptora – nos rebelaríamos e formaríamos uma frente comum de resistência ao candidato – para nós – inaceitável.

E Maluf ganhou a Convenção. Em poucos dias, iniciávamos a operacionalização da nossa decisão de não apoiá-lo. Enquanto isso, no MDB, o candidato que fora escolhido para disputar o pleito indireto era Tancredo Neves (o que se dizia era que Ulisses Guimarães só concorreria se a eleição fosse direta, aliás, o que aconteceu no pleito pós-Constituinte em 1989).

Aureliano Chaves (Vice-Presidente da República e ex-Governador de Minas) e Marco Maciel (senador, ex-Governador de Pernambuco e ex-Presidente da Câmara) eram os líderes do grupo rebelde que apoiava, no partido, a candidatura presidencial de Aureliano. Sabíamos, antecipadamente, que seríamos vencidos pelos métodos aéticos, para dizer o mínimo, que não usávamos e que Maluf empregava com total despreocupação das regras de moralidade política.

Logo, em Minas, pelas origens de Tancredo e Aureliano, começou a ganhar terreno a aproximação dos emedebistas com o grupo rebelde do PDS, que, por meio de um manifesto à Nação (dizendo a que vinha), autodenominou-se de Frente Liberal.
Com essa posição, de rejeição ao candidato oficial e aproximação com o de oposição, os “frentistas” afastaram-se do Governo que, inclusive, também por influência de Maluf, passou a combate-los radicalmente.

Após contatos do grupo liberal com Tancredo (um craque em habilidade política), o acasalamento se desenhava prestes a ocorrer. Já então a Frente Liberal significava vinte e dois ou vinte e três deputados e oito senadores, isto é, um total de mais de trinta congressistas que, na eleição presidencial pelo Congresso – como passariam de um lado para o outro – valeriam numericamente o dobro: Maluf perderia os trinta e Tancredo ganharia trinta.

Ante esse quadro, a eleição de um oposicionista que, inicialmente, era teórica passou a ganhar previsões suscetíveis de efetivar-se. A Frente Liberal conquistava novos adeptos e, consequentemente, reforçava a candidatura de Tancredo. No meio do caminho, porém, tinha uma pedra, como na poesia de Drummond, um outro mineiro (que, diga-se de passagem nada tem a ver com essa história), por sinal. Decidiu-se que o vice deveria ser alguém da Frente Liberal. Tancredo adotou a tese com entusiasmo. Escolheu, sem pestanejar, Marco Maciel, que, jeitosamente, agradeceu mas não aceitou, até porque a legislação da época exigia que os candidatos a Presidente e a Vice fossem do mesmo Partido.

Maciel esclareceu que seu projeto – e do nosso grupo da Frente Liberal – era formar um novo Partido, o que o impedia de filiar-se ao MDB. Aureliano, que também, não pleiteava, estava impedido por ser o Vice de Figueiredo, com quem estava totalmente rompido. A essa altura, Sarney, que era o Presidente do PDS, mostrava-se simpático à Frente Liberal mas, sinuoso como sempre, não se posicionara abertamente.

Por isso, foi com certa surpresa que se soube que ele decidira desfiliar-se do PDS e, imediatamente, filiar-se ao MDB, inclusive alegando que, assim, se celebraria a união nacional.  De fato, o que ocorreu é que se satisfazia a exigência legal e podia formar-se a “chapa pura” (os dois candidatos do mesmo partido), ainda que nela chegando por diferentes caminhos. Sarney, de uma hora para outra, virava um peemedebista.

E daí, com a parceria um pouco incômoda para peemedebistas mais radicais (isto é, com Sarney na vice) chegou-se à eleição de Tancredo, em janeiro de 1985, pelo Congresso Nacional, com a Frente Liberal já formada de 60 parlamentares votantes.

Ninguém imaginava, na fervilhante Brasília, de um fevereiro véspera de um governo civil, com a frenética novidade da montagem de um discutido Ministério, que haveria, num livro por escrever, um capítulo inesperado por acontecer em que, trocando personagens fundamentais do elenco, mudar-se-ia boa parte da recente História do Brasil, então por ser vivida. Ninguém imaginou o que poderia acontecer (talvez só Tancredo…). E aconteceu.

Esta coluna reflete a opinião de quem a assina e não do Jornal O Sul.
O Jornal O Sul adota os princípios editorias de pluralismo, apartidarismo, jornalismo crítico e independência.

Compartilhe esta notícia:

Voltar Todas de Colunistas

Ao lado de Padilha
Retomada de obras será por rodovias
https://www.osul.com.br/e-aconteceu/ E ACONTECEU!!! 2016-06-25
Deixe seu comentário
Pode te interessar