Sábado, 18 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 28 de agosto de 2020
O Ministério Público Federal identificou, com a quebra de sigilo telemático, dois e-mails do governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel (PSC) para a primeira-dama, Helena Witzel, que mostram Witzel intermediando contratos dela com o Hospital Jardim Amália Ltda (Hinja), que pertence à família de Gothardo Lopes Netto. Gothardo, médico, ex-prefeito de Volta Redonda e ex-deputado estadual, foi preso na operação desta sexta-feira (28) e é apontado como braço-direito do governador.
Witzel foi afastado nesta sexta do cargo, por 180 dias, por determinação do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que autorizou diligências realizadas pela Polícia Federal (PF).
Na decisão, a que o jornal O Globo teve acesso, o ministro escreveu que os dois emails foram enviados com “a minuta de um contrato de prestação de serviços advocatícios entre ela e o Hinja”. Depois de enviar a ela, o governador chegou a enviar para si o mesmo email.
O governo do Rio possui contratos com a empresa GLN Serviços Hospitalares e Assessoria LTDA e ela possui o mesmo endereço do Hospital Jardim Amália Ltda (Hinja) em Volta Redonda. Ambas as empresas pertencem à família de Gothardo Lopes Netto. Um dos contratos da GLN com o governo do Rio gera o pagamento de R$ 445 mil mensais e de R$ 5,3 milhões por ano para custeio de assistência oncológica. A resolução que permitiu os repasses é de 27 de janeiro deste ano.
O ministro assinala ainda que as investigações mostraram que a minuta inicial tinha sido elaborada por um advogado que atuava para o hospital e “observa-se que a primeira-dama, apesar de ser advogada e ser quem figurava como contratada, não participou diretamente da negociação do próprio contrato de prestação de serviços”. Pelo contrato, o Hinja se comprometeu a pagar R$ 30 mil por mês depois de um adiantamento de R$ 240 mil. No entanto, Helena Witzel teria recebido R$ 280 mil.
O MPF afirmou ao STJ não ter localizado provas da prestação dos serviços. “Apesar de a contratação envolver somas consideráveis (com adiantamento de valores expressivos), não se encontrou evidência da prestação de serviços”, afirmou o ministro na decisão.
O MPF também identificou durante as investigações uma extensa troca de mensagens entre Gothardo e Witzel no qual o médico encaminha para o governador um convite para a inauguração do Hinja com o seguinte texto: “seu amigo progredindo, investindo e acreditando no Rio”.
Pronunciamento
O governador afastado Wilson Witzel fez um pronunciamento horas depois da determinação do ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) (PGR pediu prisão de Witzel, mas ministro do STJ só autorizou afastamento). Ele negou irregularidades em sua gestão e disse não haver provas de atos ilícitos contra ele. Witzel afirmou que “está sendo massacrado” porque há interesses poderosos contra ele. E, ao se defender, disse que a decisão da Justiça foi induzida pela subprocuradora-geral da Procuradoria Geral da Republica (PGR), Lindôra Araújo, que, segundo ele, tem um relacionamento próximo com a família do presidente Jair Bolsonaro.