Domingo, 05 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 5 de outubro de 2025
Ao abrir espaço para mais gastos nos orçamentos domésticos, o alívio na cobrança do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) sobre os contribuintes de classe média poderá impulsionar o consumo das famílias a partir de 2026. Isso tenderá a impulsionar o crescimento econômico do ano que vem, mas, como efeito colateral, poderá pressionar a inflação, segundo economistas.
O alívio virá com a ampliação do limite de renda para a isenção do IRPF, dos atuais R$ 3.036 ao mês para R$ 5 mil ao mês. E com a redução na cobrança sobre quem ganha até R$ 7.350 mensais. A proposta do governo, aprovada pela Câmara na quarta-feira, ainda depende de aval do Senado.
Para compensar a perda de arrecadação para os cofres públicos, a proposta inclui um aumento da tributação para quem ganha mais de R$ 50 mil por mês, mas o efeito da recalibragem do IRPF é positivo para o consumo porque os contribuintes afetados pela isenção e pelos descontos progressivos tendem a gastar mais do que poupar, ao contrário dos mais ricos, explicou a economista Silvia Matos, pesquisadora do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV Ibre).
“As pessoas vão entrar já no início do ano (de 2026) com um salário com menos desconto do IRPF. Essas pessoas, com renda mais baixa, têm muito mais propensão a consumir do que quem terá o aumento das alíquotas. Os mais ricos, em geral, poupam mais, porque já têm capacidade de consumo, então o impacto de redução de consumo deles vai ser muito menor.”
Renan Martins, economista da consultoria 4intelligence, projeta um acréscimo de 0,3% no PIB de 2026, por causa da redistribuição da cobrança do IRPF. “Vai ser uma isenção muito grande, que vai afetar cerca de 10 milhões de pessoas, que vão ter como se fosse um reajuste salarial automático. No fim do mês, todo esse contingente populacional vai receber algumas centenas de reais a mais. Isso se propaga pela economia e se transforma em aumento do PIB, redução do desemprego, e depois inflação.”
Mais empregos
Há propagação porque as empresas contratam mais trabalhadores para dar conta de atender a demanda. Isso aumenta o emprego e a renda, reduzindo o desemprego. O problema, segundo Martins, é que esse movimento pode acabar resultando num aumento da inflação, já que a oferta, geralmente, não acompanha o ritmo da demanda.
Para 2026, a estimativa da 4intelligence é de uma alta de até 0,3 ponto percentual (p.p.) na variação do IPCA, o índice oficial de inflação, por causa do aumento da isenção do IRPF. O impacto pode chegar a 0,7 p.p. a mais em 2027.
Flávio Serrano, economista do banco BMG, estima aumento adicional de 0,3% no PIB do ano que vem, e projeta que o impacto no IPCA deverá ficar em 0,1 p.p.
“Isso pode ser um ponto de atenção para o Banco Central (BC) e, eventualmente, fazer com que ele espere um pouco mais (antes de começar a cortar os juros), para ver como será a dinâmica do consumo nos primeiros dois meses do ano, dado que a gente também vai ter um aumento do salário mínimo”, explicou Serrano, referindo-se à regra de reajuste do piso nacional de remuneração, aplicada sempre em janeiro.
Serrano pondera, por outro lado, que o real impacto das mudanças no IRPF no consumo dependerá de outras variáveis, como outras medidas de estímulo do governo, os efeitos da política juros e o nível de endividamento das famílias.
Cenário externo
Martins, da 4intelligence, acrescenta o contexto global: “Por exemplo, se o real se valorizar bastante por fatores externos e o dólar lá fora se enfraquecer por alguma medida dos Estados Unidos, isso bate na inflação, que cai aqui.”
A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) avaliou, em nota, que a mudança no IRPF “representa um estímulo direto ao poder de compra das famílias trabalhadoras, fortalecendo o mercado interno e gerando um ciclo virtuoso de crescimento econômico”, mas criticou a tributação sobre lucros e dividendos da alta renda, que pode impactar a lucratividade dos negócios. “Onerar o setor produtivo como compensação para essa medida pode anular parte do efeito positivo no longo prazo, uma vez que isso se traduz em aumento de custo para as empresas”, diz a nota. As informações são do jornal O Globo.