Sexta-feira, 09 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 5 de janeiro de 2021
Durante um comício eleitoral na Geórgia na noite de segunda-feira (4) e em uma postagem em rede social nesta terça (5), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pressionou seu vice-presidente, Mike Pence, a não ratificar o resultado do Colégio Eleitoral na sessão do Congresso que acontece nesta quarta (6).
A plenária, que é presidida por Pence, na qualidade de presidente do Senado, deve proclamar a vitória de Joe Biden, na última etapa do processo eleitoral antes da posse do democrata, em 20 de janeiro.
Sem explicar o que quis dizer, o presidente afirmou no comício que seu colega de chapa é um bom republicano, mas que “não gostará tanto dele” caso ele não “faça algo por nós” durante a sessão conjunta da Câmara e do Senado. A função de Pence, no entanto, é meramente cerimonial, sem qualquer poder de interferir unilateralmente na decisão que lhe caberá anunciar ao fim da plenária.
“Tenho que dizer a vocês, espero que nosso grande vice-presidente, nosso grande vice-presidente, faça algo para nós. Ele é um cara ótimo. Porque se ele não fizer, eu não gostarei tanto dele”, declarou Trump, afirmando que “vai lutar muito” para que os democratas não assumam a Casa Branca em 15 dias. “Não, Mike é um cara legal. Ele é um homem maravilhoso e inteligente, e um homem de quem gosto muito. Mas ele terá muito a dizer sobre isso.”
Horas, depois, em um tuíte na manhã desta terça, Trump voltou a pressionar seu vice, afirmando que ele “tem poder de rejeitar delegados escolhidos fraudulentamente”. O argumento, no entanto, não tem embasamento constitucional e funcionários próximos a Pence disseram ao The New York Times estarem confiantes em que o republicano seguirá a lei.
Pence já deu indícios de que poderia romper com a estratégia de Trump quando, por meio do Departamento de Justiça, contestou uma ação de republicanos do Texas que pedia que ele, como presidente do Senado, tivesse poderes para decidir se os votos do Colégio Eleitoral seriam válidos ou não. O vice também já avisou ao presidente que não tem o poder de mudar o resultado da decisão desse colegiado indireto, que se reuniu em 14 de dezembro e confirmou a vitória de Biden por 306 votos a 232.
Ainda assim, Pence assume uma posição ambígua ao tentar evidenciar sua lealdade a Trump. Em um evento na segunda, também na Geórgia, prometeu que na quarta-feira os republicanos “terão seu dia no Congresso”, sem entrar em maiores detalhes. Depois que 11 senadores e 140 deputados de seu partido anunciaram que vão levantar objeções no Congresso à vitória de Biden, ele disse que esses esforços “são bem-vindos”.
Controle do Senado
Trump e Pence estiveram na Geórgia em eventos para endossar a candidatura de dois republicanos, Kelly Loeffler e David Perdue, que tentavam a reeleição ao Senado pelo Estado nas eleições desta terça. No comício em Dalton, no entanto, o presidente falou mais de si do que dos candidatos, afirmando que ele teria vencido a corrida presidencial e voltando a alegar, sem provas, que teria ocorrido uma fraude eleitoral.
O comício ocorreu um dia depois de vir à tona a gravação de um telefonema de Trump às autoridades eleitorais da Geórgia, em que ele pressiona o secretário de Estado, o republicano Brad Raffensperger, a mudar o resultado da eleição presidencial no Estado. Trump foi derrotado por Biden no Estado por uma margem de pouco menos de 12 mil votos, que foi confirmada após duas recontagens.
Na gravação, obtida pelo jornal Washington Post, o presidente pede que Raffensperger “encontre 11.780 votos” que alega ter recebido — o número é um a mais do que a vantagem obtida pelo democrata no Estado, o que reverteria o resultado da votação popular. A Geórgia é um dos Estados onde Trump tenta exaustivamente, mas sem sucesso, contestar a vitória de Biden.
“Eles dizem que são republicanos, mas eu não acho que sejam. Eles não podem ser”, disse o presidente durante o comício, referindo-se a Raffensperger e ao governador Brian Kemp.
Mais cedo, Loeffler divulgou um comunicado afirmando que vai votar contra o processo de certificação do resultado do Colégio Eleitoral no Congresso, juntando-se a uma dúzia de outros senadores e cerca de 140 deputados em uma tentativa de barrar a posse de Biden. Os esforços, no entanto, são fadados ao fracasso, já que quaisquer objeções precisarão ser debatidas e votadas pela Câmara, que é controlada pelos democratas, e pelo Senado, onde diversos parlamentares republicanos reconhecem a vitória de Biden.
“Dezenas de milhões de americanos têm preocupações reais sobre a maneira como a eleição presidencial de novembro foi conduzida — e eu compartilho de suas preocupações”, escreveu Loeffler, poucas horas antes do comício de Trump e rompendo com as autoridades republicanas da Geórgia.