Sexta-feira, 26 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 2 de fevereiro de 2019
Pela primeira vez desde que o impasse político se instalou na Venezuela, um general venezuelano da ativa negou a legitimidade de Nicolás Maduro e reconheceu Juan Guaidó como presidente interino do país.
“Sou o general de divisão Francisco Estebán Yánez, diretor de Planificação Estratégica do Alto Comando Militar da Aviação, e me dirijo a vocês para lhes informar que desconheço a autoridade ilícita e ditatorial de Nicolás Maduro, e que reconheço o deputado Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela”, afirma o militar, em vídeo divulgado no Twitter neste sábado. “Povo da Venezuela, 90% das Forças Armadas da Venezuela não estão com o ditador, estão com o povo da Venezuela.”
Por uma rede social, o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, John Bolton, conclamou os militares a seguir o exemplo de Yánez. “Os Estados Unidos chamam todos os militares a seguirem o exemplo do general Yánez e a proteger os manifestantes pacíficos que apoiam a democracia”, disse Bolton.
Os EUA lideram um grupo de 19 países que reconhecem Guaidó como presidente interino. Cinco países europeus, incluindo França e Espanha, ameaçaram reconhecer o opositor se Maduro não aceitasse a realização de eleições livres em um prazo de oito dias, que vencem nesta segunda-feira.
As Forças Armadas são a principal sustentação do poder de Maduro e podem definir se a pressão interna e externa que o mandatário enfrenta surtirá efeito. A Venezuela tem mais de 600 generais, cujas declarações públicas são rigidamente controladas pelos serviços de inteligência do país.
Acredita-se que a insatisfação com Maduro seja alta em patentes mais baixas, mas pouco se sabe sobre o nível de apoio de que o regime atual dispõe entre as patentes mais elevadas. Entende-se que muitos militares dispõem de vantagens, que receariam perder em caso de mudança de regime.
Yánez, que, no vídeo disponibilizado, aparece com duas estrelas em sua farda, não é o primeiro general a desertar, mas o primeiro a fazê-lo desde que Guaidó se autoproclamou presidente interino do país.
Em sua conta oficial, o Comando da Aviação da Venezuela chamou o general de “traidor”. “Cabe destacar que [Yánez] não dispõe de mando nem de comando sobre tropas e muito menos sobre unidades aéreas. Também não tem liderança na aviação e cumpria funções de planificação”, escreveu o órgão.
Em janeiro, a Assembleia Nacional da Venezuela, que Guaidó preside e que não é reconhecida por Maduro, aprovou uma lei de anistia para militares que se voltarem contra o atual regime, de modo a criar condições para um regime de transição.
Não está claro se Yánez estava em território venezuelano ou no exterior ao gravar o vídeo. Fontes em Caracas ouvidas pelo GLOBO afirmam que acredita-se que ele já tenha deixado o país, somando-se a outros dissidentes no exterior. Em sua mensagem, o general afirma que sua insatisfação é compartilhada entre os militares:
“Pelos acontecimentos das últimas horas, a transição para a democracia é iminente. Seguir ordenando às Forças Armadas que continuem oprimindo o nosso povo é continuar com as mortes de fome, com as doenças e, Deus não permita, com os combates entre nós mesmos”, afirmou. “Convido todo o povo da Venezuela que saia às ruas pacificamente e defenda o presidente Juan Guaidó.”
Guaidó convocou uma manifestação para este sábado, mesma data de celebração dos 20 anos da chegada de Hugo Chávez ao poder.