Quinta-feira, 09 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2016
Enquanto o presidente Nicolás Maduro e a oposição lutam pelo poder na Venezuela, a opção de muitos que querem escapar da crise não é outra se não a de deixar o país. Em meio à escassez de alimentos, falta de remédios até mesmo em hospitais, violência crescente e alta da inflação, venezuelanos de diversas idades e classes sociais procuram recomeçar a vida em outro lugar.
Para aqueles sem condições financeiras, o trajeto é feito de ônibus em rotas quase continentais. Eles se reúnem, formam grupos e trocam experiências de como proceder, achar o melhor itinerário e buscar oportunidades de emprego. Muitos escolhem permanecer na América Latina, em países como Chile e Equador. O Brasil também é um dos destinos, mas a barreira da língua desencoraja alguns dos imigrantes.
Refúgio no Brasil.
Ainda assim, o número de solicitações de refúgio de venezuelanos para o País é maior do que a soma dos dois últimos anos, apenas nos primeiros sete meses de 2016. De janeiro a julho deste ano, o Conare (Comitê Nacional para os Refugiados) recebeu 1.247 pedidos de refúgio da Venezuela, ante 868 em 2015 e 223, no ano anterior. O perfil socioeconômico dessas pessoas, entretanto, só será conhecido após o processamento das solicitações, de acordo com órgão.
A reportagem conversou com pessoas de diferentes idades e condições econômicas, que têm em comum a falta de esperança na Venezuela.
Aos 22 anos, Kevin, que preferiu usar um nome fictício, está vendendo as poucas coisas que tem – uma geladeira, um computador e as peças de um celular quebrado – para juntar dinheiro para sair da Venezuela. Desanimado com a falta de segurança no país, ele pretende tomar um ônibus rumo ao Chile, levando o irmão de 17 anos. Quando chegar lá, precisa arrumar emprego e um lugar para morar – e então levará os pais, que agora ficarão na Venezuela. Ao todo, a travessia deve durar quase uma semana.
Kevin pretende conseguir 600 dólares antes de sair do país, o que está programado para o fim de outubro. A viagem custará a ele 200 dólares e a outra parte do dinheiro será usada para recomeçar a vida. “Nós já vamos levar comida suficiente para dois e, caso precisemos dormir fora do ônibus, será na rodoviária, porque não temos dinheiro para alugar um lugar para ficar.”
No Chile não há nada arranjado, a ideia é conseguir qualquer emprego que aparecer. A única ajuda vem de uma amiga, que ofereceu moradia por um mês na casa da irmã, caso ele não consiga um lugar para ficar.
Já Amy F. viu a família espalhar-se pelo continente americano com a crise. Depois de ver uma das irmãs ir morar nos Estados Unidos, ela decidiu tentar a vida em João Pessoa, na Paraíba, com o marido brasileiro, após ele ser aprovado no programa Mais Médicos. Apesar dessa conquista, a vinda não foi fácil. “Lá na Venezuela, ele tinha um nome, era conhecido, aqui no Brasil precisamos conquistar nosso espaço.” (AE)