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Por Redação O Sul | 24 de agosto de 2018
Em um novo depoimento à PF (Polícia Federal), o doleiro Lúcio Funaro afirmou, que o então deputado federal Eduardo Cunha (MDB-RJ) repassava propina ao presidente Michel Temer desde pelo menos 2003. A oitiva de Funaro (considerado um dos operadores de esquemas ilícitos protagonizados pelo parlamentar, preso desde 2016) foi realizada no chamado “inquérito dos portos”, com o objetivo de obter novas provas de pagamentos ilícitos ao presidente envolvendo o setor portuário.
Funaro acrescentou novos detalhes além das informações prestadas em sua delação premiada, fornecendo uma cifra inédita aos investigadores: o delator identificou que Altair Alves Pinto, apontado como transportador de dinheiro de Eduardo Cunha, retirou ao menos R$ 90 milhões em espécie do seu escritório.
“Dentre esses pagamentos o depoente pode afirmar com certeza que alguns destes valores ilícitos tiveram como destino direto o presidente Michel Temer”, disse no depoimento. O operador relatou que Altair Alves Pinto retirava os valores no seu escritório em São Paulo e os entregava no escritório de Temer ou no do advogado José Yunes, amigo do presidente.
“Tem conhecimento que desde 2003 ou 2004 Eduardo Cunha repassava valores decorrente de ‘propina’ para o senhor Michel Temer e que por algumas vezes o senhor Altair Alves Pinto retirava dinheiro no escritório do depoente e entregava no escritório do presidente Michel Temer ou para José Yunes, tendo também como destinatário final Michel Temer, conforme relatado por Altair”, afirmou.
Procurada por repórteres, a assessoria de Michel Temer afirmou que “Lucio Funaro é um mentiroso contumaz já desmentido por outras testemunhas e pelos fatos. Fala sem provas e cria falsas versões”.
Mercado financeiro
No início desta semana, fontes ligadas a Lúcio Funaro indicaram que o doleiro está tentando fechar um acordo com a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), por meio do qual promete revelar transações financeiras irregulares que envolveriam mais de 50 operadores ligados a bancos e corretoras de valores. O volume de negócios, de acordo com seus advogados, superaria 1 bilhão de reais.
A defesa de Funaro já enviou um ofício à CVM sugerindo o acordo. Funaro cumpre prisão domiciliar em São Paulo. Em agosto do ano passado, ele assinou um acordo de delação com a Procuradoria-Geral da República e entregou os nomes de políticos do MDB envolvidos em corrupção, entre eles o ex-ministro Geddel Viera Lima, que está preso. A Comissão abriu investigações contra o doleiro por práticas consideradas irregulares.
Na segunda-feira, a CVM multou o doleiro em quase R$ 4 milhões, por ganhos ilegais em negócios com fundos de pensão. A defesa de Funaro informou que vai recorrer da decisão e que a proposta de acordo de delação havia sido feita antes disso.