Domingo, 26 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 4 de setembro de 2020
Quando o líder da oposição venezuelana Juan Guaidó se declarou o presidente legítimo do país, em janeiro de 2019, uma conta do Instagram, FrenteLibreVzla, postou um vídeo dizendo que um “novo líder” traria liberdade para a nação em conflito.
Quem estava assistindo ao vídeo não tinha como saber que a conta não estava sediada na capital da Venezuela, Caracas, mas sim no centro de Washington, administrada por uma empresa de comunicação estratégica com clientes em toda a América Latina. A história foi revelada em um relatório divulgado nesta sexta-feira (4).
A empresa, a CLS Strategies, se tornou esta semana a última empresa de comunicação a ser punida pelo Facebook por usar contas falsas – incluindo no Instagram, uma subsidiária da rede social – para manipular secretamente a política de outro país, em violação às normas do Facebook de interferência estrangeira.
A CLS Strategies informou que iniciou uma investigação interna em conjunto com um escritório de advocacia e colocou o chefe de seu setor de América Latina em licença administrativa. Mas negou que suas atividades significassem interferência estrangeira, alegando que seus clientes estavam localizados nos países afetados.
“É importante ressaltar que nosso trabalho anterior com clientes na América Latina, incluindo oposição a regimes opressores, não foi conduzido em nome de entidades estrangeiras – o trabalho foi financiado e dirigido por clientes dentro de cada país. Isso torna o trabalho da CLS muito diferente das atividades de influência estrangeira relatadas pelo Facebook, e qualquer caracterização do trabalho da CLS nos três países em questão como ‘estrangeiro’ está errada”, disse o presidente-executivo da CLS Strategies, Bob Chlopak, em um comunicado.
“Levamos muito a sério as questões levantadas pelo Facebook e outros em relação à publicidade anterior da CLS na América Latina”, disse Chlopak em seu comunicado, acrescentando que a empresa quer “garantir que o trabalho futuro da CLS atenda aos mais altos padrões de transparência e plataformas de publicidade”.
O Facebook anunciou na terça-feira que fechou 55 contas, 42 páginas e 36 contas do Instagram vinculadas à CLS Strategies que visavam a política na Venezuela, Bolívia e México. A empresa teria gastado US$ 3,6 milhões em publicidade nos três países, uma soma que os executivos do Facebook disseram ser notável por seu tamanho e reflete o que acontece quando atores com muito dinheiro montam uma operação de desinformação. As páginas acumularam mais de 500 mil seguidores, informou o Facebook.
O relatório desta sexta-feira, produzido pelo Stanford Internet Observatory, um grupo de pesquisa de desinformação que recebeu dados do Facebook, focou as contas ativas na Bolívia e na Venezuela, incluindo vários perfis reais operados por funcionários da CLS Strategies.
Segundo os pesquisadores, as contas fechadas pelo Facebook não operavam em conjunto para ampliar artificialmente o conteúdo, mas eles descobriram que 11 delas destinadas à Bolívia foram abertas no mesmo período, em fevereiro de 2020, e listaram quatro gerentes nos Estados Unidos, um na própria Bolívia e outro na Venezuela.
O relatório também observou que os funcionários da CLS Strategies tinham vínculos profissionais anteriores com líderes políticos da oposição na Venezuela.
As contas direcionadas à Bolívia apoiavam a presidente interina Jeanine Áñez e criticaram seu antecessor, Evo Morales, que renunciou em meio a protestos nacionais em novembro, após quase 14 anos no cargo.
Uma das páginas falsas do Facebook, a Prohibido Olvidar, postou conteúdo principalmente sobre alegações de fraude eleitoral contra Evo e teve 524 curtidas e 595 seguidores, apontou o relatório. As informações são do jornal The Washington Post.