Quinta-feira, 23 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de outubro de 2015
Para ganhar contratos com a CBF (Confederação Brasileira de Futebol), a regra é simples: pagar subornos. Quem fez a confissão foi o empresário brasileiro José Hawilla, dono da Traffic Group, maior agência de marketing esportivo da América Latina, e pivô do maior escândalo do futebol internacional que levou cartolas à prisão.
A Justiça americana publicou a íntegra de seu depoimento. Nele, o brasileiro entregou a cúpula da CBF e revela como pagou por mais de 20 anos subornos para ficar com contratos. Ele ainda acertou um acordo com a Justiça americana, devolvendo 575 milhões de reais e denunciou os ex-presidentes da CBF Ricardo Teixeira e José Maria Marin, e o atual líder da entidade, Marco Polo Del Nero.
Em 12 de dezembro de 2014, Hawilla esteve diante de um juiz de Nova York (EUA), Raymond Dearie, e explicou que as propinas eram necessárias para garantir à Traffic contratos. Ele confessou ser “culpado” pelas acusações e indicou que o pagamento das propinas começou ainda em 1991. Ele ainda entregou a direção da CBF, acusando-os de terem recebido parte do suborno.
“Desde 1980 eu desenvolvo meu projeto por meio da minha empresa Traffic. Eu comprei os direitos para eventos de futebol e comecei a promovê-los de uma maneira legítima pelo mundo”, explicou o empresário, segundo a transcrição da audiência.
Mas tudo começaria a mudar. “Quando eu fui renovar o contrato para um desses eventos, a Copa América em 1991, um dirigente associado à Fifa [Federação Internacional de Futebol] e sua federação Conmebol [Confederação Sul-Americana de Futebol] me pediu propina para eu assinar o contrato”, contou. “Eu precisava do contrato por que havia assumido compromissos futuros. Apesar de não querer, concordei em pagar a propina àquele dirigente”.
“Depois disso e até 2013, outros dirigentes do futebol vieram a mim pedir propinas para assinar ou renovar contratos. Eu concordei em pagá-los por contratos de direitos de marketing para vários torneios e outros direitos”, explicou. “Eu concordei em pagar propinas para contratos para a Copa América, a Golden Cup, para a Copa do Brasil e para o acordo de patrocínio para a Seleção Brasileira”, disse.
Nos documentos que levaram à prisão de Marin, o ex-presidente da CBF foi gravado afirmando ao empresário que gostaria que o dinheiro da propina da Copa do Brasil fosse para ele. Os contratos de Hawilla com a CBF de 15 de agosto de 2012 envolvendo o torneio brasileiro foram, segundo os documentos da Corte, entregues ao FBI. Conforme as investigações, Marin e Del Nero estariam entre os beneficiários do dinheiro.
De acordo com outras informações, instantes antes da conversa, o atual presidente da CBF teria insistido com Marin para que ele não conversasse com Hawilla, alertando que o empresário estava sob investigação nos EUA. Marin não teria dado ouvidos. Del Nero, porém, não abriu a boca na conversa.
Outro contrato com o envolvimento de Hawilla foi entre a CBF, comandada por Teixeira nos anos 1990, e a Nike. Pelo menos 40 milhões de dólares em propinas foram repartidos, inclusive para o ex-presidente da CBF.
Copa América.
Hawilla também confirmou que pagou propinas em relação aos contratos da Copa América. “Os subornos foram pagos a dirigentes com posições de autoridade e de confiança na Fifa, na Concacaf [Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe] e na Conmebol”, disse, confessando que sofria de um câncer.
Nesse caso, uma tabela foi criada para distribuir o pagamento entre os dirigentes sul-americanos. O presidente da CBF ficaria com 3 milhões de dólares por cada edição da Copa América. Hawilla, porém, admite que tentou impedir a investigação, dificultando o acesso a documentos. (AE)