Quinta-feira, 25 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 26 de maio de 2020
A “Operação Placebo”, desencadeada nesta terça-feira (26) pela PF (Polícia Federal), teve por base duas investigações conduzidas pela força-tarefa da Operação Lava-Jato no Rio e pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ).
Ambas relacionam o nome do governador do Rio, Wilson Witzel, com empresários e gestores envolvidos com desvios nos recursos destinados ao combate à pandemia do novo coronavírus no Estado. Um dos indícios foi obtido por promotores estaduais após ouvir durante seis horas, na semana retrasada, o ex-subsecretário estadual de Saúde Gabriell Neves, que encontra-se preso no Presídio José Frederico Marques, em Benfica.
Outra suposta menção a Witzel nas investigações da Favorito ocorreu durante uma ligação entre o empresário Luiz Roberto Martins Soares, um dos principais alvos da operação, e o ex-prefeito de Nova Iguaçu Nelson Bornier na qual os dois mencionaram a revogação de uma resolução conjunta das secretarias estaduais de Saúde e da Casa Civil que desqualificou o Instituto Unir Saúde para seguir à frente das UPAs do Estado no ano passado.
Depoimento de Gabriell
Revelado pelo jornal O Globo na semana passada, o depoimento de Gabriell Neves reforçou as suspeitas de ligação das pessoas envolvidas no esquema com o governador. O ex-subsecretário está em Benfica desde o dia 7 deste mês, quando foi preso na “Operação Mercadores do Caos” por suspeitas de fraude na aquisição de respiradores. Trechos desse depoimento de seis horas – tomado em um outro procedimento que apura fraudes no contrato do Hospital de Campanha do Maracanã – foram enviados ao STJ.
A prisão de Neves foi motivada por um inquérito aberto para investigar a compra emergencial de 1 mil ventiladores pulmonares para o combate ao surto de coronavírus e foi autorizada pelo Judiciário depois de um pedido do Grupo de Atuação Especializada no Combate à Corrupção (GAECC) do MP do Rio. O negócio, com dispensa de licitação, envolve o empenho de R$ 183,5 milhões em recursos do Fundo Estadual de Saúde (FES) direcionados para três contratos de fornecimento junto a distribuidoras sem tradição no mercado. Neves foi o responsável pelas compras.
Dos 66 contratos firmados por Neves para enfrentar a pandemia, 44 foram cancelados. A operação desta terça foi autorizada pelo ministro Benedito Gonçalves, do Superior Tribunal de Justiça (STJ) por envolver o governador Wilson Witzel, que tem foro privilegiado.
Na concorrência, três empresas apresentaram propostas ao governo do Estado. A ARC Fontoura ofereceu o menor preço e venceu a disputa. No entanto, a investigação descobriu que todas são controladas por Mauricio Fontoura, apesar de ele ser sócio de apenas uma delas, a Jabel. Ele usava Cinthya Neumann, que também está presa, como laranja na ARC Fontoura. Porém, toda a negociação com o estado foi feita pelo empresário, como representante oficial da vencedora.
O ex-subsecretário foi afastado do cargo no dia 20 de abril, por suspeita de irregularidades depois que o governo do RJ empenhou cerca de R$ 1 bilhão para fechar contratos emergenciais, sem licitação, para o combate do Covid-19. Os valores seriam destinados para a compra de respiradores, máscaras e testes rápidos. A maior parte deste dinheiro, quase R$ 836 milhões, seria destinada para a Organização Social Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), responsável pelo Hospital de Campanha do Maracanã e outras seis unidades que ainda não foram entregues. A empresa também está sendo investigada.