Quinta-feira, 13 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 7 de fevereiro de 2022
A Fifa (entidade máxima do futebol) pretende implementar, a partir de julho, novas regras para o empréstimo de jogadores. A entidade vai reduzir gradualmente o número de atletas que poderão ser contratados ou repassados por empréstimo, limitando a seis, a partir de julho de 2024 – atualmente não existem restrições. A mudança valerá, inicialmente, nas transferências internacionais. As federações nacionais terão três anos para adaptar suas regras à norma da Fifa.
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) já estuda como será a implementação gradual das restrições, que incluem também o limite de três jogadores emprestados ou contratados por empréstimo entre dois clubes, o fim da possibilidade de um clube contratar um atleta por empréstimo e emprestá-lo para terceiros e também a limitação do tempo de empréstimo: no mínimo seis meses, no máximo um ano.
Está certo que a mudança não ocorrerá na atual temporada, mas os clubes brasileiros já estão cientes das mudanças e começam a discutir internamente o que fazer. Para Eduardo Carlezzo, especialista em direito esportivo, o impacto maior pode recair sobre clubes menores do país:
“A medida pode afetar profundamente os clubes de menor poder econômico, principalmente aqueles que sequer possuem um calendário anual de atividades e que costumam montar seus elencos com atletas emprestados para disputar os campeonatos regionais, mediante contrato de empréstimo curto.”
Na outra ponta da pirâmide, clubes que são grandes formadores e, ao mesmo tempo, compradores, também terão de se adaptar. O Palmeiras, por exemplo, possui 101 jogadores sob contrato profissional, entre o elenco de Abel Ferreira e os atletas nas categorias de base. Dezenove deles estão emprestados a outros clubes. Esse número precisará cair para seis.
A restrição deve obrigar os clubes a serem mais criteriosos na contratação de jogadores, buscando reforços que gerem expectativa maior de que serão aproveitados. A carreira de Matheus Fernandes é um bom exemplo do que deve acontecer bem menos com a nova regra. O volante era jogador do Palmeiras em 2019 e, mesmo sem destaque, foi comprado pelo Barcelona. Não conseguiu jogar no Camp Nou e foi emprestado para o Valladolid. Rescindiu com o Barça e o Palmeiras, mesmo com o jogador sem render na primeira passagem, assinou em julho passado até 2025. Seis meses depois, o emprestou para seu clube atual, o Athletico.
Efeito colateral
A Fifa afirma que, com a mudança, aumentará a competitividade entre os clubes, evitando que os mais ricos façam reserva de mercado com jogadores, e fará com que a formação dos mais jovens seja melhor, ao evitar que ele fique pulando de clube em clube. A exceção à regra será o jogador formado pelo clube e que tenha até 21 anos – esse poderá ser emprestado que não contará para a cota de seis.
Entretanto, o efeito pode ser o contrário e a restrição limitar o número de jogadores nas categorias de base dos maiores clubes. E são eles, via de regra, os que conseguem oferecer melhores condições para o jovem se desenvolver.
Rodrigo Caetano, diretor de futebol do Atlético-MG, acredita que a mudança vai gerar mais cautela nos clubes grandes na hora de assinar contratos com os jogadores da base. O primeiro que o jovem assina, aos 16, geralmente com duração de três anos, o máximo permitido, deverá ser o último em muitos casos, quando os jovens não conseguirem convencer o clube do potencial logo de saída.
“O funil vai se apertar, vai ser mais difícil ter jogadores médios saindo da base dos clubes maiores. Como vou mantê-lo no elenco?”, questiona.
O Galo, atual campeão brasileiro e da Copa do Brasil, possui 17 jogadores emprestados atualmente. Na impossibilidade de emprestar tanto, Caetano acredita que uma solução possível para os clubes seja a criação de equipes sub-23. Outra é o caminho dos multiclubes – conjunto de clubes com um mesmo dono –, com equipes satélites servindo de depositório de jogadores de um clube principal.
“A solução não é simples. Não posso sumir com o jogador que tem contrato. Mas sempre que surgem novas regras, o sistema encontra maneiras para se adaptar”, acredita Caetano. As informações são do jornal O Globo.