Sexta-feira, 17 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 17 de agosto de 2017
O programa de armas da Coreia do Norte voltou a preocupar a comunidade internacional depois que o país testou dois mísseis de longo alcance no mês passado. Uma nova rodada de sanções contra a já combalida economia norte-coreana foi decretada pela ONU e os Estados Unidos subiram o tom. Mas em meio à escalada retórica, o que o líder norte-coreano Kim Jong-un realmente pretende alcançar?
1) O que os Estados Unidos podem fazer para que a Coreia do Norte interrompa de uma vez por todas seus programas de enriquecimento nuclear e de mísseis?
Dada a escalada da guerra retórica entre os dois países, e o alerta do presidente dos EUA, Donald Trump, de reagir com “fogo e fúria” se o líder norte-coreano, Kim Jong-un, continuar ameaçando abertamente os EUA e cumprir a ameaça de lançar mísseis contra o território americano de Guam, ainda restam dúvidas sobre como a diplomacia pode ser uma ferramenta útil para moderar as tensões regionais.
O secretário de Estado Americano, Rex Tillerson, e outros funcionários do alto escalão do governo Trump destacaram a importância do diálogo. No passado, o próprio Trump se ofereceu para conversar com Kim, mas não há sinais de que os norte-coreanos estejam abertos a negociação.
Conversas mantidas com funcionários do alto escalão do governo norte-coreano na Europa indicam que Pyongyang estaria focada em continuar com seus programas de enriquecimento nuclear e de mísseis.
Em teoria, há incentivos que os EUA podem oferecer à Coreia do Norte, incluindo uma abertura ao diálogo sobre o tratado de paz para encerrar a guerra entre as Coreias (tecnicamente, os dois países ainda estão em guerra), reconhecimento diplomático (como o estabelecimento de uma missão americana em Pyongyang) ou mesmo um acordo sobre a redução de armas convencionais na península, mas esses são objetivos, no melhor dos casos, de longo prazo.
Mas as repetidas violações dos acordos diplomáticos com os EUA por parte da Coreia do Norte erodiram qualquer apetite para concessões de Washington, onde os dois lados do espectro político (democratas e republicanos) nutrem grande desconfiança de Pyongyang.
2) Por que a Coreia do Norte quer ter armas de destruição em massa?
Desde que chegou ao poder, no final de 2011, Kim Jong-un deixou clara suas prioridades: modernizar as Forças Armadas do país e garantir a prosperidade econômica.
As aspirações nucleares da Coreia do Norte datam da década de 1960 e são consistentes com o desejo do regime por autonomia política e militar frente à oposição não só de seus inimigos tradicionais, como os Estados Unidos, Japão e Coreia do Sul, mas também de aliados históricos, como China e Rússia.
Parte da motivação da Coreia Do Norte resulta de uma avaliação sensata dos interesses estratégicos do país. O que aconteceu na Líbia e no Iraque é um lembrete para Pyongyang de que a única garantia de sua sobrevivência é a possessão de armas de destruição em massa.
Enquanto os Estados Unidos reafirmaram que não têm a intenção de atacar militarmente a Coreia do Norte, Pyongyang continua a acreditar que Washington, como uma potência nuclear armada e inegavelmente superior, com 28 mil soldados estacionados na Coreia do Sul, representa uma ameaça para o país.
As ambições em relação ao programa de testes de bombas e mísseis balísticos de Kim Jong-un também são uma expressão da identidade política do regime. A legitimidade de sua dinastia está atrelada à narrativa de defesa contra seu arqui-inimigo, os Estados Unidos.
3) Uma Coreia do Norte com armas nucleares poderia coexistir com os EUA?
A campanha de testes de mísseis da Coreia do Norte e os dois testes nucleares bem-sucedidos no ano passado refletiram o progresso do potencial armamentista do país.
Relatórios recentes da inteligência americana indicam que o país já pode ter 60 bombas nucleares, mas os dados são questionados por analistas.
Além disso, os testes com mísseis de longa distância realizados nos dias 4 e 28 de julho indicaram que a Coreia do Norte poderia atingir alvos nos EUA.
Mas uma nota do Boletim de Cientistas Atômicos questionou se isso realmente seria possível.
De qualquer forma, o governo norte-americano deixou claro que não vai reconhecer ou tolerar qualquer escalada armamentista de Pyongyang.
4) O que a Coreia do Norte quer é realista?
A prioridade de Pyongyang é continuar com os testes, em um esforço para solidificar seu arsenal. Para o líder norte-coreano, isso faz sentido como meio para fortalecer sua autoridade política e sua legitimidade em casa.
Kim Jong-un pode encontrar consolo na aparente relutância da China para impor restrições econômicas à Coreia do Norte, apesar de seu recente apoio por sanções mais duras da ONU.
Ele também pode fazer um cálculo racional de que os EUA aceitarão a necessidade de negociar com a Coreia do Norte.
Até lá, Kim acreditaria ser possível viabilizar uma gama de concessões dos EUA e da Coreia do Sul, seja na forma de assistência econômica, na redução de armas convencionais ou no respeito político como um Estado soberano independente.