Sábado, 08 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 6 de outubro de 2020
Até a estreia da Seleção Brasileira nas eliminatórias, nesta sexta-feira (9), contra a Bolívia, o público brasileiro ouvirá Tite falar algumas vezes no “quinto homem entre as linhas do adversário”. Sob o ponto de vista tático, é a principal preocupação do treinador nesta nova fase do time, que ficou quase um ano sem se reunir por causa da pandemia. Mas o que é este quinto elemento? O que significa estar entre as linhas? Qual a finalidade?
Foi em novembro de 2017, quando o Brasil não conseguiu furar a defesa da Inglaterra num amistoso sem gols em Wembley, que o olhar de Tite para a seleção mudou. Diante de uma linha de cinco defensores e outra de três homens logo à frente, ele entendeu que precisava incorporar no time um traço do chamado “Jogo de Posição”, em que jogadores ocupam zonas específicas no ataque: na armação das jogadas, quer ter, de cada lado do campo, um jogador bem aberto. Na Copa de 2018, teve Neymar na esquerda e Willian na direita. Na Copa América, Jesus foi o ponta direita e Éverton o da esquerda.
A ideia é que se crie um dilema para defesas rivais. Ou a linha defensiva se espaça, obrigada a cobrir toda a largura do campo, ou se concentra em defender o centro da área e deixa os pontas com certo espaço.
Na Copa América, quando se organizava para atacar, a seleção tinha quatro jogadores entre a linha de defesa e a de meio-campo do rival: os pontas Éverton e Jesus, além do centroavante Roberto Firmino e Philippe Coutinho, o meia central no 4-2-3-1. Para Tite, faltava algo para ser mais agressivo. Justamente o quinto homem entre estas linhas.
“A gente precisava deste acréscimo. O (Renan) Lodi pode oferecer isso pela esquerda. Mas pode ser ao contrário, pela direita. Não é o melhor do Danilo, mas ele fez na Juventus. Com um externo (jogador que atua pelo lado) que vem para dentro, dá espaço para o lateral ser este quinto jogador na linha ofensiva. Para ficar com um ataque mais pesado”, planeja Tite.
O técnico entende que Renan Lodi, lateral do Atlético de Madrid e hoje titular da seleção, pode ocupar o campo ofensivo e ser o homem aberto pela esquerda, bem perto da linha lateral. Assim, o homem que inicia a jogada como ponta esquerda, que pode ser Éverton, Neymar ou até Coutinho, ocuparia um espaço mais ao centro, aproximando-se do centroavante. A eles três se somariam o meia central — que pode ser Neymar ou até Coutinho, que voltou a fazer tal função no Barcelona — e o ponta pela direita, abrindo o campo.
Nesta ideia, a seleção jogaria num 4-2-3-1. Mas Tite garante que a inclinação ao “Jogo de Posição” não significa um time estático.
“Os jogadores do centro terão liberdade por ali”, afirma, acrescentando que, na hora de finalizar as jogadas, o ponta pela direita também deve buscar uma diagonal para a área.
Ele vê Gabriel Jesus como um jogador adaptado à função. Como o perdeu por lesão, precisará buscar uma alternativa. Pode ser Richarlison, melhor na diagonal para a área do que aberto como ponta, ou Rodrygo. Ou ter um meia pelo lado direito, como Coutinho ou Everton Ribeiro.
“Richarlison é impressionante na capacidade de pressentir esse momento (de correr da ponta para a área), ter esta percepção. Ele não quer a jogada de combinação, de pivô. Ele vira de costas para o armador. Ele só quer ser a flecha, só quer gol”, avalia Tite.
Quanto Tite fala que o desenho pode ser feito “ao contrário”, indica a hipótese de ter na direita um lateral aberto — seria Danilo — e na esquerda um ponta, como mostra o diagrama “Danilo como quinto homem”.
“Coutinho ou Everton Ribeiro podem partir do lado e vir para dentro, eles fazem isso. E mesmo se eu buscar um ponta aberto na direita, o Cebolinha pode fazer, embora trabalhe normalmente na esquerda. Rodrygo tem feito”, explica.
Sua tarefa é escolher jogadores que se complementem. E quando se tem um dos melhores do mundo, uma das decisões fundamentais será a faixa de campo que Neymar vai ocupar. E definir seus acompanhantes.
Há três possibilidades na mesa. Uma, Neymar partindo como meia central num 4-2-3-1, usando a característica que adquiriu no Paris Saint-Germain: mover-se pelo meio, dar o último passe em profundidade e finalizar. Outra hipótese, num cenário mais arrojado, é Neymar como meia pela esquerda num 4-3-3. Ou colocá-lo na ponta-esquerda, de onde partiria para o meio abrindo o corredor lateral para Renan Lodi — como mostram os diagramas relativos ao atacante do PSG.