Quarta-feira, 10 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 15 de agosto de 2025
O presidente russo Vladimir Putin se reuniu com o presidente americano Donald Trump no Alasca nessa sexta-feira (15) para discutir a guerra na Ucrânia. O encontro ocorreu em terras que a Rússia vendeu aos Estados Unidos em 1867. Essa não será a única ironia histórica. A Rússia foi levada a vender o Alasca em parte por causa de uma guerra na Crimeia, península anexada pelo Império Russo em 1783, sob o comando de Catarina, a Grande.
A Crimeia tornou-se parte de uma Ucrânia independente em 1991, e a Rússia a tomou em 2014, em uma prévia de sua invasão em larga escala da Ucrânia em 2022. Ironicamente, “não há nada melhor do que isso em grande escala histórica”, disse Pierce Bateman, historiador da Universidade do Alasca em Anchorage, referindo-se ao local da cúpula entre Trump e Putin.
A compra do Alasca por US$ 7,2 milhões agora parece um ótimo negócio para os Estados Unidos. Embora tenha feito sentido para o Império Russo na época, alguns nacionalistas russos veem a venda como um erro histórico. Veja o que você precisa saber sobre as forças e pessoas que a moldaram e por que seu legado é importante.
– Rússia adquiriu Alasca durante era de expansão colonial: Exploradores russos chegaram ao atual Alasca no século XVIII, atravessando um estreito que separava a Ásia e a América do Norte. O estreito recebeu o nome de Vitus Bering, o marinheiro dinamarquês enviado ao exterior pelo Czar Pedro, o Grande, na década de 1720 para reivindicar novos territórios russos.
O professor Bateman disse que havia uma sensação de “velho oeste” no território quando os primeiros exploradores russos correram para coletar peles de lontra marinha — uma mercadoria valiosa na China na época — nas Ilhas Aleutas e arredores.
Também houve brutalidade contra povos indígenas, incluindo sequestros de filhos de líderes locais e a destruição de barcos e equipamentos de caça, de acordo com William L. Iggiagruk Hensley, historiador e ex-senador estadual democrata no Alasca.
– Apelo econômico do Alasca para a Rússia diminuiu com o tempo: Em 1799, o Império Russo fundou a Companhia Russo-Americana para agilizar o comércio de peles e formalizar os assentamentos russos no território que viria a ser conhecido como Alasca. A “América Russa” acabaria se estendendo até o sul, na Califórnia.
Mas a sobre-exploração estava tornando o comércio de peles muito menos lucrativo. Havia também tensões entre comerciantes de peles russos, britânicos e americanos, em parte porque os limites de seus territórios e áreas de caça não eram bem definidos. E os assentamentos e ativos escassamente povoados da Rússia eram mal defendidos.
– A geopolítica foi um fator na venda: Os desafios de manter o Alasca eram agravados por acontecimentos em outros continentes. Um deles era o comércio: a Rússia queria cada vez mais se concentrar na expansão imperial em seu Extremo Oriente.
Outra foi a guerra. Quando a Rússia começou a lutar contra a Grã-Bretanha, a França e o Império Otomano na Crimeia, em 1853, as autoridades russas temiam que as forças britânicas tentassem invadir o Extremo Oriente russo pela América do Norte, de acordo com um livro de 2016 sobre a compra do Alasca, escrito pelo historiador Lee Farrow. Mesmo depois que essa ameaça diminuiu, eles continuaram preocupados com a presença britânica no Pacífico.
Eles também se perguntavam se a “América Russa” sobreviveria ao expansionismo americano. Na década de 1850, os Estados Unidos haviam conquistado a Califórnia, anexado o Texas e travado uma guerra com o México. Falava-se em “Destino Manifesto”, a ideia de que os Estados Unidos estavam destinados a se expandir pela América do Norte.
Autoridades russas, incluindo o comandante da frota do Pacífico, pediram ao império em dificuldades que descarregasse o Alasca enquanto pudesse.
– Acordo fez sentido para ambos os lados: As condições diplomáticas para a venda eram boas, segundo Lee, professor da Universidade de Auburn, em Montgomery. O comércio entre a Rússia e os Estados Unidos estava florescendo, e ambos demonstravam crescente desconfiança em relação à Grã-Bretanha, antiga colônia americana. Em março de 1867, o Secretário de Estado William Henry Seward abriu as negociações oferecendo US$ 5 milhões pelo território a Eduard Stoeckl, o ministro russo nos Estados Unidos.
Duas semanas depois, eles acertaram US$ 7,2 milhões, ou menos de dois centavos por acre. Um tratado foi assinado no escritório de Seward às 4 da manhã, após uma noite inteira de negociações, e posteriormente aprovado pelo Congresso e pelo Czar Alexandre II.
O acordo gerou certa tensão e escândalo: o governo americano atrasou o pagamento à Rússia, e houve acusações de que políticos e jornalistas americanos haviam aceitado cortes no pagamento como propina. Alguns críticos não viam vantagem estratégica em adicionar um território congelado com mais que o dobro do tamanho da França e chamaram a compra de “loucura de Seward”.
Mas a resistência foi, em grande parte, impulsionada por uma minoria de jornais americanos, de acordo com um estudo de 2019 do historiador Michael A. Hill. Muitos americanos estavam entusiasmados com os supostos recursos naturais do Alasca, escreveu ele. As informações são do jornal The New York Times.