Segunda-feira, 05 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 17 de abril de 2022
Este ainda é um do maiores mistérios da ciência nos últimos dois anos: por que existem pessoas que não se infectam com o coronavírus? Os cientistas procuram responder a esta questão e três estudos podem trazer alguma clareza a esse enigma.
Segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, 43,3% dos americanos possuem anticorpos contra SARS-CoV-2, o que implicaria que pouco mais da metade da população não teve a infecção. Além de cuidar bem de si mesmos durante a pandemia, não está exatamente claro porque mais da metade dos americanos não foram infectados.
Da mesma forma, um dos mistérios dessa pandemia é explicar por que algumas pessoas, por exemplo o marido ou a esposa de uma pessoa infectada, não contraíram o coronavírus apesar de morarem na mesma casa e dormirem na mesma cama.
Mais um exemplo: das 36 pessoas que foram intencionalmente infectadas com SARS-CoV-2 em um estudo de desafio, apenas 18 contraíram a covid.
Qual foi o mecanismo pelo qual, apesar de estarem infectados com a mesma quantidade de vírus, as outras 18 pessoas não desenvolveram a infecção e nem sequer produziram anticorpos neutralizantes?
A infecção
Antes de mais nada, lembremos que, quando o vírus entra no corpo de uma pessoa, ele desencadeia a resposta imune, que compreende basicamente duas etapas importantes:
— O desenvolvimento de linfócitos T, ou células de memória;
— E a produção de anticorpos neutralizantes pelos linfócitos B.
As células T de memória rastreiam o vírus invasor. Não reconhecendo, demoram alguns dias para ordenar aos linfócitos B que produzam anticorpos neutralizantes específicos contra o vírus invasor.
Se o vírus já for conhecido, esses linfócitos T, além de ordenar a produção de anticorpos neutralizantes específicos, podem atacá-lo e destruí-lo diretamente.
Estudos recentes postulam duas teorias para explicar o fenômeno pelo qual alguns seres humanos podem ser resistentes à infecção pelo novo coronavírus.
Hipóteses
A primeira teoria diz que certas pessoas são capazes de eliminar o coronavírus. Isso graças aos anticorpos neutralizantes e células T de memória que eles têm em seu corpo, produto de terem sofrido de resfriados antigos. Existem quatro tipos de coronavírus que causam 30% dos resfriados em humanos.
A segunda teoria diz que certos seres humanos são capazes de produzir substâncias dentro de suas células. São substâncias que não apenas destroem o vírus invasor, mas também destroem a célula infectada.
Três estudos apoiam a primeira teoria, aquela que diz que ter sofrido vários resfriados durante a vida, anticorpos neutralizantes e células de memória direcionadas contra esses vírus podem proteger de forma cruzada contra o novo coronavírus.
Pesquisas
No primeiro estudo, pesquisadores britânicos testaram repetidamente o sangue de um grupo de profissionais de saúde altamente expostos ao vírus durante a primeira onda da pandemia, quando as vacinas ainda não estavam disponíveis.
O que eles encontraram foi algo muito surpreendente. Os profissionais de saúde expostos ao vírus que não desenvolveram a doença — e nem foram capazes de produzir anticorpos neutralizantes — formaram células de memória especiais, que foram apelidadas de células T reativas cruzadas.
Pensa-se que tendo resfriados causados pelos quatro coronavírus antigos, eles estimularam a formação de células T de memória que foram capazes de neutralizar o coronavírus.
O interessante é que essas células T de memória cruzada não atacaram o pico, mas as estruturas internas do vírus. Isso abre a possibilidade de desenvolver novos tipos de vacinas, não direcionadas ao pico, mas às estruturas internas do vírus.
O segundo estudo mostrou que as crianças produzem duas vezes mais células T reativas cruzadas que os adultos, sugerindo que essa é a explicação por que as crianças não apresentam tantos sintomas quanto os adultos quando infectadas.
No terceiro estudo, foi demonstrado que as pessoas que moravam na mesma casa e não estavam infectadas também eram pessoas que produziam maior número de células T com reação cruzada.