Quinta-feira, 03 de julho de 2025
Por Redação O Sul | 10 de janeiro de 2021
“A Terra vai girar mais rápido em 2021”. “O ano vai passar voando”. “Este pode ser o ano mais rápido da história”. Essas são algumas frases que talvez você já tenha ouvido ou lido ultimamente, mas será que isso é verdade? Bem, a resposta curta é: sim e não. Há, sim, uma aceleração na rotação do planeta neste ano, mas, não, isso não afeta a nossa percepção do tempo — e a explicação aprofundada você encontra nesta matéria.
É verdade que a Terra está ganhando um pouco (só um pouco) de velocidade no movimento de rotação em torno de si mesma. Contudo, essa aceleração é tão pequena que não perceberemos absolutamente nada. Além disso, é algo completamente natural e não está relacionado a nenhum “evento apocalíptico”. É que existem muitos fatores que influenciam a rotação de nosso planeta, como o Sol, a Lua, o gelo polar e o próprio núcleo terrestre.
Quando dois ou mais objetos cósmicos estão ligados gravitacionalmente — como a Terra, Lua e Sol — todos exercem alguma influência em seus respectivos movimentos, bem como na distribuição de suas massas. O nome desse efeito é “maré”, e a semelhança com o nome do nível dos mares não é coincidência. As marés das águas ocorrem por causa da órbita lunar ao redor da Terra, mas a Lua também influencia a própria rotação do nosso planeta.
O Sol, claro, também exerce sua influência. Ele é o principal responsável por manter a Terra e a Lua dentro desse sistema coeso de objetos orbitando entre si. Mas as coisas não são tão harmoniosas como parecem. Por exemplo, quando a Lua está em um lado do planeta, a massa terrestre é atraída pelo satélite natural, que puxa para si a matéria mais próxima. Então, vivemos em um mundo que é puxado com um pouco mais de força de um lado e um pouco menos do outro, fazendo com que se estique de tempos em tempos. E isso é algo imperceptível para nós.
Tudo isso causa mudanças na rotação e no próprio formato de nosso mundo (sim, é por causa das marés que a Terra é mais achatada nos polos), mas há muitos outros jogadores nessa disputa gravitacional cósmica — muitas forças e fenômenos diferentes são capazes de alterar as propriedades relacionadas à forma como medimos as horas, dias e anos por aqui. Os outros planetas do Sistema Solar também puxam a Terra, e ainda existem fatores internos, desde terremotos ao aquecimento global, que podem alterar o comportamento terrestre.
Só que nada disso é perceptível dentro da experiência de uma vida humana. Em outras palavras, por mais que nosso planeta mude sua velocidade de rotação, jamais perceberíamos, porque as alterações realmente mensuráveis são de longo prazo — e põe longo nisso! Só para se ter uma ideia, os relógios atômicos mostram que a Terra experimentou seu dia mais rápido dos últimos 50 anos em 19 de julho de 2020. Aquele dia foi 1,4602 milissegundo mais curto do que as 24 horas normais. Para que essas acelerações possam fazer alguma diferença real nos relógios, demoraria muitos, mas muitos anos.
A Terra também desacelera
Nosso planeta também pode girar mais devagar. Aliás, foi isso o que aconteceu nos últimos bilhões de anos. Acontece que a soma das dinâmicas de rotação da Terra em torno de si mesma e do movimento da Lua em torno da Terra resulta em uma espécie de mecanismo de freio. Esse efeito é bem pequeno, imperceptível a curto prazo — a cada ano que passa, em média, esse jogo gravitacional faz com que nossos dias fiquem 14 microssegundos mais longos. Ou seja, a Terra demora um pouquinho mais para completar um giro em torno de si.
Isso é insignificante, mas, em escalas de tempo muito longas, os microssegundos eventualmente se acumulam e se transformam em horas. As marcas de marés das águas em sedimentos já revelaram que, há 620 milhões de anos, um dia durava um pouco menos de 22 horas. Isso comprova que a Terra desacelerou e nossos dias ficaram mais longos, mas podemos ir além: quando o sistema Terra-Lua se formou há 4,5 bilhões de anos, a duração de um dia era de entre 6 e 8 horas.
Dias mais curtos?
Mesmo que não possamos notar as mudanças, existe algo com que os cientistas terão que lidar em algum momento. É que cada vez mais nossa tecnologia depende de relógios de altíssima precisão, então talvez seja necessário subtrair alguns “segundos bissextos” para manter o registro de passagem do tempo alinhado com a rotação da Terra. Isso será importante para manter satélites e outros sistemas de comunicação sincronizados com nosso planeta.
Mas não há motivos para acreditar que nossa percepção do tempo vai mudar em 2021, ou em qualquer outro período de nossas vidas, como muitas manchetes sensacionalistas têm sugerido por aí. Além disso, se analisássemos a velocidade de rotação da Terra ao longo de um período extremamente longo de tempo, veríamos que a rotação aumenta e diminui de tempos em tempos — e isso é completamente normal.