Terça-feira, 20 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 8 de março de 2016
É em um quarto rosa e cheio de brinquedos que Amanda Carvalho mostra os novos acessórios que comprou para sua Reborn, uma boneca hiper-realista. A garota, porém, não está mostrando seus produtos apenas para amigos da escola ou familiares. Quase 4 milhões de pessoas assistiram ao momento, que foi compartilhado em seu canal no YouTube, o “Vida de Amy”. Com 200 mil inscritos, a página de vídeos fez com que Amanda se tornasse uma celebridade instantânea para outras crianças e virasse um dos principais nomes entre os youtubers mirins do País.
Amanda nasceu há 11 anos, na mesma época em que o YouTube era fundado nos Estados Unidos. Apesar de dizer que ama novelas e que assiste “ao Programa Silvio Santos todos os dias”, a youtuber faz parte de uma geração que cresceu com a plataforma de compartilhamento de vídeos, comprada pelo Google, em 2006, por 1,65 bilhão de dólares. Não é à toa que o maior ídolo da garota não seja a Xuxa ou qualquer outro ícone da TV, mas a youtuber Kéfera Buchmann, do canal de vídeos “5inco Minutos”.
Hoje, cinco entre os dez principais ídolos das crianças e pré-adolescentes brasileiros são estrelas do canal de vídeos – é o que mostra uma pesquisa recente feita pela consultoria Provokers para o Google e o Meio & Mensagem. Celebridades virtuais como Felipe Neto e Kéfera aparecem à frente de astros como os atores Juliana Paes e Rodrigo Lombardi.
Nos Estados Unidos, a situação é a mesma: as cinco principais celebridades para o público infantojuvenil são do YouTube, segundo pesquisa da revista Variety. Além disso, o canal foi a sétima marca mais adorada por crianças de 6 a 12 anos nos EUA em 2015, conforme dados da consultoria Smarty Pants, à frente de Nickelodeon, Disney e McDonald’s.
No Reino Unido, pela primeira vez na história, crianças já passam mais tempo on-line do que vendo TV. “Com maior acesso à internet de banda larga, os vídeos estão ficando mais populares em todo o mundo, inclusive no Brasil”, diz José Calazans, analista de mídia da Nielsen.
No Brasil, entre os dez canais com maior número de visualizações, dois são infantis: o “Tototoys Kids”, em sétimo lugar, com mais de 1,1 bilhão de visualizações; e a “Galinha Pintadinha”, que lidera a lista, com 2,8 bilhões de visualizações. Segundo colocado e feito por atores como Fábio Porchat e Gregório Duvivier, o “Porta dos Fundos” tem 600 milhões de visualizações a menos que a personagem infantil.
Inspiração.
“Ter canais no YouTube estimula as crianças a realmente curtirem a infância”, diz a youtuber de 26 anos Luísa Clasen, a Lully do canal “Lully de Verdade”. Para ela, a produção dessa faixa etária na rede de vídeos é positiva. “Há dez anos, as crianças tinham adultos como exemplo na TV. Hoje, podem se inspirar em outras crianças, sem sofrerem a pressão de querer crescer logo.”
O próprio YouTube reconhece que as vontades evoluíram. “Vemos a presença de crianças e adolescentes no YouTube como algo natural, como resultado do surgimento de novos ídolos”, diz a empresa, por meio de nota. “As crianças e jovens de hoje querem fazer parte da produção do conteúdo que consomem. Não querem mais assistir passivamente aos conteúdos envelopados.”
Para a diretora-executiva do Instituto Educadigital, Priscila Gonsales, “o youtuber é gente como a gente. É uma forma de mostrar como as pessoas que fazem sucesso não estão tão longe das pessoas comuns”.
Além de “Vida de Amy”, outros canais produzidos por crianças, como “Julia Silva” (1 milhão de seguidores), “Felipe Calixto” (200 mil inscritos), “Eloah e Diversão” (210 mil) e “Rick Santina” (120 mil), também fazem muito sucesso com vídeos que abordam o universo infantil. (AE)