Domingo, 11 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 10 de maio de 2025
A enxaqueca é muito mais do que uma dor de cabeça comum. Trata-se de uma condição neurológica crônica que afeta cerca de 1 bilhão de pessoas no mundo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), sendo a segunda principal causa de anos vividos com incapacidade.
“O que muita gente não sabe é que essa condição pode se agravar e se tornar enxaqueca crônica — quando a dor de cabeça aparece em 15 ou mais dias por mês, durante pelo menos três meses seguidos. Esse agravamento tem relação direta com os chamados ‘cronificadores da enxaqueca’”, explica o neurologista Tiago de Paula, especialista em Cefaleia pela Escola Paulista de Medicina (EPM/UNIFESP) e membro da International Headache Society (IHS) e da Sociedade Brasileira de Cefaleia (SBC).
Segundo ele, esses fatores aumentam o risco de evolução da doença. Entre os mais comuns estão o uso excessivo de analgésicos ou triptanos, distúrbios do sono como apneia obstrutiva, além do consumo frequente de cafeína e álcool.
O neurologista destaca que o uso excessivo de medicação é o cronificador mais frequente. “Ele altera a resposta dos receptores de dor no cérebro e gera um ciclo de dependência e piora da condição, causando o chamado efeito rebote. Funciona assim: a pessoa toma o remédio, sente alívio momentâneo, mas logo a dor retorna com mais frequência e intensidade. Aí ela toma outro comprimido e, quando percebe, já está usando quase todos os dias”, explica.
O cérebro de quem sofre com enxaqueca já é naturalmente mais reativo a estímulos sensoriais como luz forte, ruído ou variações hormonais. “Os cronificadores ampliam essa sensibilidade, modificam os circuitos cerebrais ligados à dor e dificultam o retorno ao padrão normal”, diz Tiago.
Como evitar
A boa notícia é que a cronificação pode ser evitada e, em muitos casos, revertida. “É essencial entender que os remédios para crise apenas aliviam os sintomas, mas não tratam a doença. E mais: seu uso frequente pode piorar o quadro”, alerta.
A campanha “3 é demais”, da Sociedade Brasileira de Cefaleia, recomenda procurar tratamento quando o paciente tem três ou mais crises por mês. “Cerca de 44% das pessoas com enxaqueca não buscam atendimento por acharem que já estão tratando o problema com analgésicos. Só procuram ajuda quando o remédio para de fazer efeito — e aí a doença já se tornou crônica”, destaca.
“Reconhecer e tratar os cronificadores cedo pode evitar anos de sofrimento. Um acompanhamento multidisciplinar, com neurologistas, psicólogos e nutricionistas, traz excelentes resultados”, finaliza.
Como tratar, de fato, a enxaqueca?
Segundo o especialista, o tratamento de primeira linha inclui medicamentos orais, como anticonvulsivantes e betabloqueadores (como o propranolol), além dos anticorpos monoclonais anti-CGRP — os primeiros desenvolvidos especificamente para enxaqueca.
“Esses medicamentos bloqueiam a ação do CGRP, uma substância ligada à inflamação e transmissão da dor, presente em níveis elevados em quem sofre com a condição”, explica.
Em casos mais graves de enxaqueca crônica, a combinação dos anti-CGRPs com a toxina botulínica tem se mostrado mais eficaz. “A toxina é aplicada em pontos específicos e ajuda a reduzir a hiperexcitabilidade cerebral, melhorando o controle das crises”, afirma.
“Mas, acima de tudo, é fundamental buscar acompanhamento especializado para garantir um tratamento adequado”, conclui o neurologista.