Sexta-feira, 07 de novembro de 2025
Por Redação O Sul | 29 de junho de 2020
A escola de samba do Rio de Janeiro Estação Primeira de Mangueira foi condenada a pagar uma indenização de R$ 10 mil a uma foliona que foi barrada no desfile de 2015 da agremiação por ser branca, informou o colunista do jornal O Globo Ancelmo Gois. O valor foi fixado pela 22ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro como compensação pelas despesas com fantasia e hospedagem, além do desgosto da mulher, que não realizou o sonho de desfilar na Avenida. Na ação, a mulher foi representada pelo advogado Saulo Alencar.
De acordo com o Tribunal de Justiça, a foliona havia viajado de Barra Mansa, no Sul do estado, para o Rio especialmente para o desfile, que tinha como enredo “Agora chegou a vez vou cantar: mulher de Mangueira, mulher brasileira em primeiro lugar”. Ela havia comprado uma fantasia para sair na ala “Mãe Menininha”.
Mas, quando se preparava para entrar na Marquês de Sapucaí, dirigentes da Mangueira impediram que a mulher se juntasse aos demais componentes da ala, alegando que ela se destinava apenas a mulheres negras. De acordo com os dirigentes, se uma foliona branca desfilasse com o grupo, a escola poderia perder pontos com os jurados.
E o que a mulher pretende fazer com o dinheiro da indenização deixa claro que a paixão pela escola segue firme e forte. Kátia, de 56 anos, garante que vai usar o dinheiro para, finalmente, desfilar pela vede-e-rosa. “Vou desfilar e lavar a alma. Frequentei a quadra por 15 anos, ainda sou apaixonada. Já me convidaram pra sair em outras escolas, mas não consigo”, afirma Kátia.
Há cinco anos, essa mangueirense de coração viveu uma decepção enorme ao ser retirada da concentração, quando estava prestes a debutar na Marquês de Sapucaí. Kátia e a irmã compraram, horas antes, fantasias da ala “Mãe Menininha”. Cada uma desembolsou R$ 850.
Faltando minutos para o começo do desfile, integrantes da agremiação simplesmente informaram que ela, a irmã e três outras mulheres não poderiam sair naquela ala, cujas componentes deveriam ser exclusivamente mulheres negras.
“Falaram que a gente era branca e não podia desfilar na ala de mulheres negras. Mas por que deixaram outras pessoas brancas desfilarem na ala? E por que venderam as fantasias pra gente?”, questiona a foliona.
Kátia e a irmã ficaram arrasadas. Elas haviam saído de Barra Mansa exclusivamente para o desfile, mas os representantes da Estação Primeira foram irredutíveis.
“Fiquei constrangida e fui embora. Chorei a noite inteira. Naquele desfile, que estava falando da mulher guerreira, a gente ter aquela decepção, foi muito triste. Era meu sonho, mas ainda vou realizar.”
Na decisão, o juiz considerou que a indenização será uma compensação pelas despesas com fantasia e hospedagem, além do desgosto da mulher, que não realizou o sonho de desfilar na Avenida.
A assessoria de comunicação da Estação Primeira de Mangueira informou que a situação ocorreu na gestão anterior. De acordo com a nota, o presidente da escola, Elias Riche, ainda está buscando junto aos advogados que cuidaram do caso mais detalhes sobre a decisão judicial em questão. As informações são dos jornais O Globo e Extra.