Por Redação O Sul | 29 de dezembro de 2019
Assunto sempre controverso, os concursos de beleza infantil são alvos de críticas de especialistas. “Criança não precisa se preocupar com os padrões de beleza, ou ao menos não deveria”, avalia o psiquiatra Ênio Roberto Andrade, que atende pacientes menores de idade no Hospital das Clínicas. “Ao se fazer um concurso, você começa a estabelecer padrões. Se a garotada não tiver recursos emocionais, pode desenvolver de ansiedade a depressão”.
Há, ainda, a questão do trabalho infantojuvenil artístico, alerta a procuradora Ana Maria Villa Real, titular da Coordenadoria Nacional de Combate à Exploração do Trabalho da Criança e do Adolescente. “Casos como esses merecem a máxima atenção, pois as crianças e adolescentes possam estar sujeitos à erotização e à sexualização precoce, com desgastes emocionais e outros tipos de constrangimento.”
O empresário e comunicador, Silvio Santos, por exemplo, é alvo de uma investigação do MP (Ministério Público) de São Paulo por um torneio de miss infantil apresentado em seu programa dominical, recentemente. O motivo foi um incidente que gerou uma série de discussões. A certa altura da atração, ele se dirigiu ao auditório: “Agora vocês vão votar em quem tem as pernas mais bonitas, o colo mais bonito, o rosto mais bonito e o conjunto mais bonito”.
No exterior, polêmicas não são novidade quando se trata desse tema. Um caso bastante coinhecido é o do reality norte-americano “Toddlers and Tiaras”, que de 2009 a 2016 mostrava os bastidores de competições mirins da modalidade. Em um dos episódios, uma mãe fez a filha de 4 anos colocar imitações de seios sob um vestidinho rosa para dublar a veterana cantora Dolly Parton, famosa pelos dotes avantajados nesse atributo. Outra mulher incentivou a sua garotinha, também de 4 anos, a simular o consumo de um cigarro.
Botox
Se até injeções de botox já são aplicadas em pequenas candidatas desses certames em países como os Estados Unidos, no Brasil há regulamentos vetando uso de biquíni ou maiô, inclusive em fotos nas redes sociais. Afinal, as imagens podem ser usadas por pessoas mal intencionadas fora de contexto e em situações impróprias, causando constrangimento público à criança, o que é proibido pelo ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
A regra, no entanto, parece valer mais para candidatas de 4 a 13 anos, porque para adolescentes há quem aponte exageros como biquínis a milímetros do fio dental. Mãe de uma “minimiss” em São Paulo, uma empresária de 37 anos concorda que nas atuais disputas “tudo está mais sensualizado, porque na minha época era um maiô, e olhe-lá”.
A filha de 10 anos, que pratica hipismo se diz “uma menina elegante e educada”, é fã de tutoriais de beleza do site de vídeos YouTube. Embalada em um vestido de plumas brancas que custou cerca de R$ 8 mil, ela já dá dicas de beleza para a própria mãe.
Mãe de outra representante paulista, uma advogada de 46 anos garante se preocupar em manter o ambiente saudável para a criança, recentemente classificada na segunda colocação em uma disputa com esse perfil. “Eu digo para ela que papai-do-céu sabe o que faz, você está aqui para se divertir e ninguém ganha sempre”, ressalva. “Tem que ser uma brincadeira. Quando vira obrigação, fica chato.”
As duas garotas têm conta no Instagram, e por lá vez ou outra pipocam comentários de teor pedófilo. Como na vez em que a filha de uma delas posou ao lado de uma atriz para fazer propaganda de uma linha de pijamas. A outra já apareceu vestida de pizza e de cachorro-quente. Um homem reagiu à foto: “Essa já está no ponto, mas a outra [mais nova] não”. A mãe deletou o texto imediatamente.
