Quinta-feira, 29 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 3 de abril de 2023
Mais um caso de espião russo que se passava por brasileiro foi confirmado nesta semana. Gerhard Daniel Campos Wittich, morador do Rio de Janeiro há pelo menos cinco anos, que se dizia brasileiro de família austríaca, é um “suposto espião russo”, de sobrenome Shmyrev, afirmou o jornal britânico The Guardian.
Ele teria simulado desaparecimento em janeiro e já estaria de volta a Moscou, junto com sua mulher Maria Tsalla ou Irina Romanova, que teria morado como espiã em Atenas, na Grécia. Os dois teriam deixado namorados locais para trás.
O caso de ambos foi revelado por veículos gregos como Zougla e Kathimerini, e foi aprofundado pelo The Guardian com detalhes como o recente aluguel de um imóvel próximo ao consulado americano no Rio.
Segundo o Guardian, o espião russo dirigia uma série de empresas de impressão 3D no Rio de Janeiro que produziam, entre outras coisas, esculturas de resina para militares brasileiros e chaveiros. Ele desapareceu em janeiro, no meio de uma viagem à Malásia. Sem mandar mensagens para sua namorada no Rio de Janeiro, ela prontamente iniciou uma “busca frenética por seu parceiro desaparecido”, afirma o Guardian.
O Itamaraty e as comunidades do Facebook na Malásia se mobilizaram para procurar o desaparecido. Mas Campos Wittich teria reaparecido em Atenas, na Grécia.
A empresa de impressão do espião russo forneceu, de acordo com o Portal da Transparência, a empresa 3D Rio Impressão 3D Especializada Ltda forneceu material ao governo federal em cinco ocasiões diferentes, quatro delas em 2020 e outra em 2022. O portal registra compras não especificadas para o Ministério (então secretaria) da Cultura, o Comando da Marinha e o Comando do Exército, em valores que variam de R$ 8.500 a R$ 3.000.
A empresa foi aberta em 08 de janeiro de 2018 e tem sede em Curicica, na zona oeste do Rio, região dominada por milicianos. Segundo o Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica, a atividade principal da Rio3D é “promoção de vendas”. Como atividades secundárias, surgem algumas especificidades como venda de material de informática, eletrodomésticos, equipamentos de áudio e vídeo, bijuterias, souvenires, artesanatos e obras de arte.
A mídia grega, citando fontes do serviço de inteligência do país, ele era um russo “ilegal”, um espião infiltrado trabalhando para um programa de inteligência de elite, que havia sido treinado durante anos na Rússia para poder se passar por um estrangeiro.
Ele teria sido casado secretamente com outra ilegal, que se fazia passar por uma fotógrafa greco-mexicana chamada Maria Tsalla, que dirigia uma loja de artigos de tricô em Atenas. Ambos haviam sido despachados em uma missão de décadas para servir os serviços de inteligência de Vladimir Putin.
Pelo menos seis desses supostos ilegais foram desmascarados em vários locais no ano passado, sugerindo que pode haver um ou mais desertores passando informações para o ocidente, segundo revelou o Guardian.
Analistas acreditam que a inteligência russa pode estar usando mais de seus espiões ilegais, expondo-os a riscos adicionais, porque muitos de seus espiões “legais” baseados em Embaixadas russas foram expulsos durante a guerra na Ucrânia.
A Grécia acredita que Campos Wittich era um ilegal russo com o sobrenome Shmyrev, disse uma fonte ao The Guardian, enquanto sua esposa, “Maria Tsalla”, nasceu Irina Romanova. Ela se casou com ele na Rússia antes do início de suas missões e adotou o sobrenome dele, afirmam as fontes da Inteligência da Grécia. Ela deixou Atenas às pressas no início de janeiro, logo após a saída de Campos Wittich do Brasil. Nenhum dos dois voltou.
Espiões disfarçados costumam trabalhar em pares, como casais, mas o caso de Campos Wittich e Tsalla é o primeiro exemplo de um casal ilegal trabalhando em países separados, com vidas separadas, afirmou o The Guardian.
“Temos poucas dúvidas de que eles eram casados”, disse a autoridade grega ao The Guardian, acrescentando que se tratava de um caso incomum. Ele afirmou que a dupla planejou encontros na Grécia, Chipre e França nos últimos tempos, possivelmente encontros românticos misturados com espionagem.
Em dezembro, autoridades eslovenas prenderam um casal se passando por argentinos, que administravam uma galeria de arte online em Ljubljana. Fontes disseram ao Guardian que eles eram oficiais do serviço de inteligência estrangeiro SVR da Rússia e acreditam que eles operavam em toda a Europa.
“Não tínhamos nenhuma evidência de que ela fazia espionagem na Grécia; a única coisa ilegal pela qual ela poderia ser acusada era o uso de documentos falsos”, disse a fonte do The Guardian. No entanto, ela viajou muito e os serviços de inteligência em toda a Europa estão investigando seus movimentos.
Dos dois, foi Campos Wittich quem mais fez contatos em círculos que poderiam ser interessantes para a inteligência russa. Ele morou no Rio de Janeiro por pelo menos cinco anos e sua empresa de impressão 3D tinha instalações militares e agências governamentais entre seus clientes.
Uma dessas criações, de uma cobra verde fumando cachimbo e disparando dois revólveres, foi encomendada pelo 1º Batalhão da Polícia do Exército como uma homenagem aos esforços do Brasil na 2ª Guerra.
Na época de seu desaparecimento, Campos Wittich estava fazendo os últimos pagamentos de uma nova sede que havia adquirido para a firma no centro do Rio. Ele ficava em um prédio comercial a menos de 50 metros do consulado dos EUA.
Enquanto se preparava para pagar a última parcela das reformas, teria chegado a ligação para que ele fugisse, em meio a temores de que as prisões na Eslovênia possam ter comprometido outros ilegais. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.