Quinta-feira, 11 de dezembro de 2025
Por Redação O Sul | 16 de abril de 2020
Um grupo integrado por espiões da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e militares do Exército busca, de forma sigilosa, provas de irregularidades no Ministério da Saúde, comandado, até esta quinta-feira (16), por Luiz Henrique Mandetta, com quem o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entrou em choque nas últimas semanas. As informações são da revista Veja.
De acordo com a reportagem, os alvos da investigação são dois ex-deputados do DEM, amigos de Mandetta, que centralizariam informalmente todas as grandes compras da pasta e foram acusados na delação da Odebrecht de terem recebido caixa dois: José Carlos Aleluia, assessor especial do ministro, e Abelardo Lupion, que atua na diretoria de Gestão.
Segundo Veja, o grupo apura informações sobre pagamentos suspeitos, contratos que foram firmados com empresas que não existem ou só existem no papel e liberação de recursos para prefeituras e cobrança de comissões. Embora algumas das investigações estejam em andamento desde o ano passado, receberam atenção maior a partir do momento em que Mandetta e Bolsonaro começaram a se desentender. O Planalto, segundo a revista, queria usar esses casos para constranger Mandetta e forçá-lo a se demitir.
Para além das suspeitas de irregularidades na pasta, o Planalto queria colocar Mandetta como um gestor incompetente. Segundo um servidor que teve acesso ao trabalho disse à revista, no dossiê há uma lista de erros nas ações de combate à pandemia de coronavírus.
Um dos casos citados envolve a compra de respiradores para hospitais de Manaus (AM). Segundo a fonte de Veja, os equipamentos não puderam ser utilizados porque faltavam peças que não foram compradas.
Demissão
Com índice de aprovação de sua gestão em 76%, o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, anunciou, nesta quinta, que foi demitido pelo presidente Jair Bolsonaro. Usando uma conta em rede social, Mandetta divulgou a informação, pondo fim à gestão que vinha comandando as ações de combate à pandemia provocada pelo novo coronavírus. O oncologista Nelson Teich será o novo titular da pasta.
À frente do cargo, Mandetta colecionou embates públicos com Bolsonaro por defender a orientação da Organização Mundial de Saúde e de outras autoridades médicas para assegurar o isolamento da população como medida preventiva para alastramento do vírus. Mandetta resistia aos pedidos do presidente da República para que o Ministério da Saúde endossasse o retorno dos brasileiros ao trabalho e até mesmo recomendasse uso amplo do medicamento hidroxocloroquina, antes mesmo de aprovação de sua eficácia como tratamento da Covid-19.
Pesquisa do Datafolha divulgada no início do mês mostrou que a aprovação do Ministério da Saúde era o dobro da do presidente Jair Bolsonaro. Segundo o instituto, a pasta foi aprovada por 76% da população, enquanto o presidente recebeu aprovação de 33%.
Em conversa com o jornal O Globo, Luiz Henrique Mandetta reiterou as declarações que fez ao Twitter sobre sua saída do governo. Na curta ligação, Mandetta confirmou que ouviu de Bolsonaro sua demissão do cargo de ministro da Saúde. Ao final, Mandetta avisou que iria ligar para sua mãe, Maria Olga Solari, para dar a notícia. A frente do Ministério da Saúde há um ano e quatro meses, Mandetta não visitava Mato Grosso do Sul — onde está mora a mãe — desde o início da pandemia do novo coronavírus, em fevereiro.
Após a reunião com Bolsonaro nesta tarde, Mandetta fez uma coletiva de imprensa no Ministério da Saúde para comentar sua saída do cargo e foi aplaudido de pé na chegada ao auditório. Ele pediu aos servidores do ministério que façam uma defesa intransigente “da vida, do SUS e da Ciência”.