Sábado, 07 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 6 de junho de 2025
O jornal francês Libération, principal publicação de esquerda na França, criticou na última terça-feira (3) a decisão da Universidade Paris-VIII de conceder um título de doutor honoris causa (título honorário dado por mérito, sem necessidade de defesa de tese) ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Em editorial intitulado “Il n’est pas possible aujourd’hui de décerner un doctorat honoris causa à Lula, trop proche de Poutine” (“Não é possível hoje conceder um doutorado honoris causa a Lula, próximo demais de Putin”), o jornal expressa “surpresa e tristeza” diante da homenagem, entregue nessa sexta-feira (6).
Segundo o texto, o presidente brasileiro tem adotado uma postura ambígua em relação à guerra na Ucrânia, equiparando “agressor e agredido”. A publicação cita a presença de Lula no desfile militar de 9 de maio, na Praça Vermelha, em Moscou, ao lado de presidentes autoritários como Vladimir Putin (Rússia) e Xi Jinping (China). O evento buscou, segundo o jornal, associar a invasão da Ucrânia à luta contra o nazismo.
“A realpolitik ou a defesa, ainda que legítima, do multilateralismo e do Sul Global não justificam tudo”, escreveu o jornal.
Fundado por Jean-Paul Sartre e Serge July em 1973, o Libération é conhecido como o principal veículo da esquerda intelectual francesa, especialmente por sua atuação crítica desde os protestos de Maio de 1968. O editorial representa um setor de esquerda europeia que vê com ceticismo a política externa de Lula.
O texto questiona se, diante da necessidade de reforçar laços com o Brasil, não haveria outra figura política, intelectual ou artística com maior consenso dentro da sociedade francesa para receber a homenagem.
Apesar de elogiar o passado de Lula, citado símbolo da resistência democrática, o editorial afirma que o contexto internacional atual torna a concessão do título “altamente contestável”.
Discurso
“A homenagem de hoje não é apenas um reconhecimento pessoal. É um reencontro com valores que moldaram minha vida: a justiça social, a educação como ferramenta de emancipação e o compromisso com os que sempre tiveram de lutar por voz e por espaço”, afirmou Lula em discurso logo após receber o título. “Forjei minha trajetória na defesa dos direitos dos mais vulneráveis. Esta universidade nasceu da esperança e da coragem do povo francês, no calor das ruas de 1968. Construiu-se como resposta às exigências de uma juventude que sonhava com um mundo mais igualitário e um ensino mais acessível, crítico e conectado às realidades sociais”, completou o presidente. As informações são do site Poder360 e do Palácio do Planalto.