Terça-feira, 06 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 27 de maio de 2022
O secretário de Estado americano, Antony Blinken, esboçou a estratégia da Casa Branca para a China, afirmando que a política americana não será baseada na busca por uma nova Guerra Fria, mas na ordem internacional e na diplomacia. Feito dias após a visita inaugural do presidente Joe Biden à Ásia, o discurso não trouxe novidades, mas foi o posicionamento mais detalhado dos democratas sobre sua postura diante de Pequim, 16 meses após chegarem ao poder.
Blinken indicou os parâmetros que deverão ser seguidos pelas agências e diplomatas americanos diante da China, mas sem detalhar os mecanismos que serão adotados. O secretário de Estado reforçou a importância da ordem estabelecida após a Segunda Guerra Mundial, afirmando que não se tratam apenas de ambições ocidentais, algo apontado com frequência pelos chineses, que acusam os EUA de, ao falarem em manutenção da ordem atual, buscarem manter sua hegemonia.
A curto prazo, a Rússia é uma ameaça mais imediata à ordem global devido à invasão na Ucrânia, mas Pequim representa um desafio maior para o futuro, disse Blinken em sua fala na Universidade George Washington, na capital americana. A audiência incluía, entre outras autoridades, o senador republicano Mitt Romney, um crítico do ex-presidente Donald Trump.
“A visão da China vai nos distanciar dos valores universais que mantiveram tanto do progresso do planeta nos últimos 75 anos”, disse o secretário de Estado. “A China é o único país com a intenção de remodelar a ordem internacional e, cada vez mais, o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para fazê-lo.”
O objetivo americano, disse Blinken, não é causar uma nova Guerra Fria com a China, convencer Pequim a mudar seu sistema político, bloquear a posição chinesa como uma potência global ou forçar países a escolherem um lado. Ele prometeu, contudo, defender a lei internacional e “moldar o ambiente estratégico para Pequim para avançar nossa visão para um sistema internacional aberto e inclusivo”, resumindo-a em três palavras: “investir, alinhar e competir”.
“Vamos investir nas fundações da nossa força aqui em casa, na nossa competitividade, inovação, democracia. Vamos alinhar nossos esforços com nossa rede de aliados e parceiros, agindo com um propósito e causa comum”, afirmou. “Vamos competir com a China para defender nossos interesses e construir nossa visão para o futuro. Encaramos esses desafios com confiança.”
As relações entre as duas maiores economias do planeta ganharam ares mais tensos durante o mandato de Trump, com suas políticas antagônicas, e Biden é há muito pressionado para detalhar sua política para o gigante asiático e mobilizar mais seus aliados regionais. Outros desafios de política externa, como a caótica retirada do Afeganistão em 2021, pondo fim a duas décadas de invasão, e a guerra na Ucrânia, contudo, dividiram o foco dos democratas.
Disputa por influência
As declarações põem fim a um mês atribulado para os esforços americanos de conter a influência chinesa no Indo-Pacífico, começando com uma inédita cúpula em Washington para líderes do Sudeste Asiático no início do mês — uma tentativa de reafirmar o compromisso americano com a região, que Biden tachou como o começo de uma “nova era”.
Na semana passada, Biden visitou o Japão e a Coreia do Sul, onde teve reuniões bilaterais e participou da reunião do Quad, o Diálogo de Segurança Quadrilateral, que inclui o Japão, a Índia e a Austrália.
Durante sua visita a Tóquio, Biden disse que Washington estaria disposta a usar força para defender Taiwan caso a ilha fosse atacada pelos chineses, deixando de lado a política de “ambiguidade estratégica” adotada pelos presidentes americanos desde o reatamento com Pequim, na década de 1970. Horas depois, sua equipe voltou atrás e afirmando que sua política para a ilha, vista por Pequim como uma província rebelde, não mudou.
O princípio de “uma só China” também foi reafirmado por Blinken nesta quarta, se distanciando do tom adotado por Biden e afirmando que os EUA não apoiam a independência de Taipé, apesar de apoiar seus interesses. Por esta abordagem, os americanos reconhecem que Taiwan faz parte da China, mas continuam apoiando apenas a autodefesa da ilha, para onde nacionalistas chineses fugiram ao serem derrotados pelos comunistas na guerra civil de 1949.