Quarta-feira, 14 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 11 de fevereiro de 2023
O Pentágono pedirá ao Congresso norte-americano autorização para retomada do financiamento a dois programas secretos de inteligência na Ucrânia, suspensos no início do ano passado, antes da invasão da Rússia. Se aprovada, a medida permitirá que militares do setor de Operações Especiais dos Estados Unidos treinem agentes ucranianos para monitorar ações militares da Rússia no país vizinho.
Também estão nos planos a execução de missões de contrainformação e a retomada da montagem de de fontes de inteligência em território ucraniano. Inéditas desde o início do conflito, as missões implicariam maior (e mais direto) envolvimento norte-americano no conflito, em um momento no qual tem sido ampliada a ajuda militar de Washington às forças de Kiev.
Os programas poderão ser retomados em 2024, embora ainda não esteja claro se o governo do presidente Joe Biden permitiria que militares norte-americanos voltassem à Ucrânia para supervisionar o trabalho ou se tentariam que fazer isso a partir de outro país do Leste Europeu. Nenhum militar americano é conhecido por ter operado lá desde o início da guerra, além de um pequeno número encarregado da segurança da Embaixada dos EUA em Kiev.
Funcionários do Congresso consideram difícil prever o resultado da votação, especialmente com os republicanos divididos sobre as vastas somas gastas na Ucrânia. Outros argumentam que a despesa relativamente pequena dos programas – US$ 15 milhões (cerca de R$ 79 milhões) anuais para tais atividades em todo o mundo – é uma pechincha em comparação com as dezenas de bilhões de dólares comprometidos para treinar e armar as forças ucranianas e reabastecer os estoques norte-americanos.
Oficiais militares estão ansiosos para reiniciar as atividades na Ucrânia para garantir que fontes de inteligência conquistados com dificuldade não sejam perdidos à medida que a guerra avança, considera Mark Schwartz, um general aposentado de três estrelas que liderou as Operações Especiais na Europa quando os programas começaram em 2018.
“Quando você suspende essas coisas porque a escala do conflito muda, você perde o acesso”, disse ele, “e isso significa que você perde informações e inteligência sobre o que realmente está acontecendo no conflito”.
Operações similares
Serviços de inteligência norte-americanos por muitos anos pagaram unidades militares e paramilitares estrangeiras selecionadas no Oriente Médio, Ásia e África, empregando-as como “substitutas” em operações de contraterrorismo contra a Al-Qaeda, o Estado Islâmico e seus afiliados.
Programas mais recentes, como os usados na Ucrânia, são considerados uma forma de “guerra irregular”. Eles são destinados ao uso contra adversários, como a Rússia e a China, com quem os Estados Unidos estão em competição, não em conflito aberto.
Críticos dizem que tais atividades aumentam o risco de levar os Estados Unidos a um papel mais direto na guerra da Ucrânia. Oficiais de defesa sustentam, porém, que ao contrário do esforço maior e mais aberto do Pentágono para armar os militares ucranianos, os programas secretos não contribuiriam diretamente para a capacidade de combate da Ucrânia, porque os agentes envolvidos e seus financiadores seriam restritos a realizar apenas as tarefas não violentas que haviam assumido até sua suspensão no ano passado.
O debate surge quando a guerra em grande escala da Rússia na Ucrânia se aproxima do seu segundo ano e quando o governo Biden acelera e expande dramaticamente o escopo da assistência militar que está fornecendo ao governo em Kiev, apesar dos repetidos protestos russos e ameaças de escalada.
Nas últimas semanas, Biden autorizou o fornecimento de munição e armas avançadas, incluindo tanques de batalha pesados e outros veículos blindados de combate. O restabelecimento desses programas de guerra irregular aprofundaria ainda mais o envolvimento de Washington, concedendo aos militares americanos controle direto sobre os agentes ucranianos na zona de guerra.
Normalmente, a implantação de uma equipe de controle substituta no país anfitrião é necessária como parte desses programas, embora as tropas de Operações Especiais dos Estados Unidos tenham se acostumado nos últimos anos a aconselhar forças substitutas e parceiras longe das linhas de frente. Biden prometeu que não enviaria tropas para dentro do país, exceto em casos isolados, que incluem o adido militar e o pessoal de segurança que trabalha na embaixada.