Sábado, 14 de junho de 2025
Por Redação O Sul | 28 de março de 2023
Manifestantes voltaram às ruas de cidades da França nesta terça-feira (28), mas desta vez com uma forte presença de estudantes jovens, segundo detectou a inteligência francesa. Embora os protestos sejam por conta de uma polêmica reforma da previdência aprovada por decreto por Emmanuel Macron, os estudantes têm se mobilizado casa vez mais conforme a repressão policial aumenta. No fim da tarde, houve confronto violentos principalmente na cidade de Nantes, Lyon, Lille e Paris.
De acordo com um relatório do serviço de inteligência da França publicado pelo jornal Le Figaro, incidentes de violência policial contra manifestantes, como os que ocorreram nas últimas mobilizações em Paris, podem ser extremamente mobilizadores entre os jovens e poderiam provocar a raiva. Com isso, as autoridades se prepararam nesta terça para um número até três vezes maior de jovens nas ruas.
Com uma greve somada à manifestação, que fechou escolas e outros serviços, os primeiros relatórios da inteligência sugeriram um alto nível de mobilização estudantil. Muitos jovens manifestantes de fato se juntaram à marcha principal em Paris.
“Todos nós conhecemos alguém que foi espancado ou que esteve sob custódia da polícia”, disse Lou Boudet Marin, 21, que compareceu ao protesto desta terça com dois amigos. “Tenho a sensação de que até pessoas que não eram necessariamente contra a aposentadoria estão começando a participar do movimento”, concorda sua amiga Nora Melot, de 20 anos.
Organizações internacionais denunciam o uso da força policial contra manifestantes. “Há um uso desproporcional da força que já havíamos denunciado durante os coletes amarelos”, disse à AFP Jean-Claude Samouiller, da ONG Anistia Internacional, lembrando o protesto social em 2018 e 2019.
Os protestos começaram a dispersar no início da noite do horário local (meados da tarde no Brasil), ainda sem um número oficial de estudantes presentes. Porém, imagens e relatos na imprensa francesa indicavam que de fato havia muitos jovens na marcha desta terça. Clermont-Ferrand, líder do sindicato CGT, Philippe Martinez, afirmou que havia “muitos jovens”, mas sem precisar números.
Os jovens estavam desde janeiro como coadjuvantes nas manifestações contra a impopular reforma da previdência de Macron, mas sua crescente presença nas últimas semanas preocupa as autoridades. Em 2006, sua mobilização junto aos sindicatos conseguiu que o então presidente conservador Jaques Chirac recuasse em seu polêmico Contrato do Primeiro Emprego.
No Liceu Montaigne, um dos centros de educação mais antigos de Paris situado no 6º distrito de Paris, nos arredores do bairro nobre de Jardim de Luxemburgo, 50 jovens bloquearam a entrada esta manhã, com latões de lixo e cercas de segurança.
“A reforma afeta nosso futuro, e nós seremos os adultos de amanhã. Temos que agir agora”, diz Alice, uma estudante de 16 anos, à agência France-Press. “Já que não podemos votar, é nossa forma de nos expressar”, acrescenta sua amiga Ariane.
Na última paralisação, na quinta-feira passada, 23, quase 150 escolas registraram bloqueios e tentativas de bloqueio em toda a França, segundo o Ministério da Educação, que inicialmente havia mencionado 53 colégios. O governo está muito atento, de acordo com o porta-voz Olivier Véran, à presença dos jovens nas manifestações.
Nicolas, um estudante de 22 anos, diz que o gatilho que o levou às ruas foi a decisão de Macron em 16 de março de adotar sua reforma por decreto. A medida radicalizou os protestos, cada vez mais violentos desde então. A entrevista do presidente dada dias após a aprovação da reforma não ajudou acalmar os ânimos. “Foi muito arrogante”, completou o jovem.
As manifestações dessa terça ocorreram em várias cidades da França, porém em número menor, segundo as autoridades. Embora os sindicatos apontem números maiores que os oficiais. As manifestações, junto com greves que fecharam ferrovias e escolas, aumentam a pressão sobre o presidente Emmanuel Macron para resolver o impasse com os sindicatos sobre seu plano de elevar a idade da aposentadoria.
Mais de 700 mil pessoas se reuniram em toda a França para marchas que começaram pacíficas, mas que depois registraram confrontos em algumas cidades. Embora grande, o Ministério do Interior diz que o número de hoje foi menor que da última mobilização na quinta-feira passada, que reuniu mais de um milhão de pessoas. Mas organizadores chegaram a apontar quase 2 milhões de pessoas nas ruas, segundo o jornal Le Figaro.
Os manifestantes bloquearam estradas e invadiram os trilhos de uma estação de trem no centro da capital. Enquanto as manifestações continuavam pacíficas em grande parte de Paris, imagens ao vivo da Reuters mostravam a polícia atacando os manifestantes em meio a nuvens de gás lacrimogêneo. Nas cidades ocidentais de Nantes e Rennes, alguns manifestantes atearam fogo a carros, móveis e latas de lixo. Ao menos 35 pessoas foram presas na capital, segundo a polícia. As informações são dos jornais O Estado de S. Paulo e The Washigton Post e da agência de notícias AFP.