Sexta-feira, 16 de maio de 2025
Por Redação O Sul | 30 de novembro de 2022
Nos últimos anos, o uso da cannabis e seus derivados para fins medicinais aumentou consideravelmente. A redução da dor é um dos mais comuns atualmente. Entretanto, de acordo com um estudo publicado recentemente na revista científica Journal of the American Medical Association, a cannabis não é melhor do um placebo no alívio da dor.
O trabalho, realizado por pesquisadores do Instituto Karolinska, na Suécia, analisou resultados de ensaios clínicos randomizados nos quais a cannabis foi comparada com um placebo para o tratamento da dor clínica. Foram incluídos 20 trabalho, envolvendo quase 1.500 pessoas, que compararam a mudança na intensidade da dor em diferentes condições, antes e depois do tratamento.
Também foram analisados diferentes tipos de produtos de cannabis – incluindo THC (sigla para tetrahidrocanabinol, substância responsável pelo efeito psicoativo da maconha), CBD (sigla para canabidiol) e cannabis sintética (como nabilona). Esses tratamentos foram administrados de várias maneiras, incluindo pílula, spray, óleo e fumaça.
A maioria dos participantes do estudo era do sexo feminino (62%), com idade entre 33 e 62 anos. Os estudos analisados foram realizados majoritariamente nos Estados Unidos, Reino Unido ou Canadá, mas também foram incluídas pesquisas realizadas no Brasil, Bélgica, Alemanha, França, Holanda, Israel, República Tcheca e Espanha.
Os resultados mostraram que a dor foi classificada como significativamente menos intensa após o tratamento com placebo, com efeito moderado a grande dependendo de cada pessoa. No entanto, o efeito das substâncias derivadas da cannabis não se mostraram superiores a isso.
O achado corrobora os resultados de outra metanálise, publicada em 2021, que mostrou que estudos de maior qualidade tiveram respostas placebo mais altas. Isso sugere que alguns ensaios com cannabis controlados por placebo falham em garantir o cegamento correto. O cegamento de um estudo como esse é importante para que o paciente não saiba se está tomando o medicamento ativo ou o placebo, dado que isso pode interferir na resposta.
O novo estudo também revelou que muitos participantes podem distinguir entre um placebo e a cannabis ativa, apesar de ambos terem o mesmo odor, sabor e aparência.
De acordo com os pesquisadores, essas falhas podem ter levado a uma superestimação da eficácia da cannabis medicinal no tratamento da dor. Se os participantes estão cientes de que estão recebendo ou não canabinóides, é mais provável que forneçam uma avaliação tendenciosa da eficácia da intervenção. Para garantir que os pesquisadores estejam observando o efeito real da cannabis, os participantes não podem saber o que recebem.
O novo estudo também avaliou a forma a mídia e as revistas científicas abordam pesquisas sobre o potencial terapêutico da Cannabis para ver se isso se relacionava com o efeito relatado pelos participantes. A decisão de realizar esse tipo de análise foi motivada por pesquisas que mostraram que a cobertura da mídia e as informações disponíveis na internet podem afetar as expectativas de uma pessoa em relação ao tratamento.
Os resultados mostram que a esmagadora maioria das notícias relataram que a cannabis teve um efeito positivo no tratamento da dor. Segundo os pesquisadores, isso significa que a cobertura da mídia em relação ao composto tende a ser positiva, independentemente de quais foram os resultados de um estudo.
Existem numerosos exemplos da relação entre as expectativas de tratamento e as respostas ao placebo. Se uma pessoa acredita que sentirá alívio de sua dor usando um determinado produto ou tratamento, isso pode mudar a maneira como ela percebe a dor.
Apesar das evidências, a equipe sueca afirma que não é possível afirmar que a cobertura da mídia é responsável pela alta resposta ao placebo observada nos estudos.
“Mas como os placebos demonstraram ser tão bons quanto a cannabis para controlar a dor, nossos resultados mostram o quão importante é pensar sobre o efeito placebo e como ele pode ser influenciado por fatores externos – como a cobertura da mídia. Para tratamentos, como canabinóides, que recebem muita atenção da mídia, precisamos ser mais rigorosos em nossos ensaios clínicos”, ressalta Filip Gedin, pesquisador no Instituto Karolinska, em artigo publicado no The Conversation.