Terça-feira, 30 de abril de 2024
Por Redação O Sul | 24 de junho de 2015
Se verdadeira a informação desta terça-feira, 23, do “Financial Times”, segundo o qual a Alemanha dá apenas até a próxima segunda-feira para a Grécia aprovar no Parlamento as medidas de austeridade prometidas pelo premiê Alexis Tsipras, o que a Europa está querendo não é um acordo, mas a rendição da Grécia.
É evidente que Tsipras não terá tempo hábil para costurar apoios no Parlamento, já que prometeu concessões que ultrapassam os sinais vermelhos que ele próprio estabelecera antes.
Trata-se, acima de tudo, de cortes nas aposentadorias, mas também de aumentos do IVA (Imposto sobre Valor Agregado).
Cortar as aposentadorias é uma medida necessária, porque o gasto com elas é abusivo, muito acima da média europeia, em relação ao PIB.
Mas o Syriza precisa de tempo para costurar apoios suficientes no Parlamento. A sua ala esquerda, radicalmente contrária a qualquer tipo de concessão e disposta à aventura de abandonar o euro, não aprovará as concessões prometidas pelo premiê.
Ele já negocia, discretamente, com o To Potami (“O Rio”), partido centrista que tem 17 deputados, dos 300 que compõem o Parlamento (o Syriza tem 149 e, para formar governo, precisou do apoio dos “Gregos Independentes”, direitista e dono de 13 cadeiras).
É impossível saber, por ora, quantos deputados do Syriza votarão contra o novo programa, mas, quanto mais pressa for imposta ao Parlamento, maior será a resistência.
O Syriza ganhou a eleição de janeiro exatamente por se opor à submissão dos governos anteriores às determinações europeias e do Fundo Monetário Internacional.
Os líderes europeus já haviam chegado à conclusão na segunda-feira, 22, de que, mais do que salvar a Grécia, liberando os recursos para que o país pague o que deve, estavam salvando a própria Europa.
É o que diz, implicitamente, Donald Tusk, o presidente do Conselho Europeu, a instância suprema do conglomerado: “Os líderes assumiram total responsabilidade política pelo processo para evitar o pior cenário, como seria um incontrolável e caótico Graccident” (um acidente de percurso que levasse ao calote grego).
O problema é que os dirigentes europeus querem evitar, simultaneamente, que o Syriza possa cantar vitória, o que estimularia o voto em outros partidos de esquerda, em países também vítimas das políticas de austeridade.
Daí porque acenam com um acordo mas forçam a ruptura do Syriza. (Clóvis Rossi/Folhapres)