Quarta-feira, 01 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 11 de junho de 2023
A inundação da região da Ucrânia e o início da contraofensiva do país à Rússia levaram a guerra para uma nova fase. Conforme analistas, a implosão da barragem da represa de Karkhovka indica o reconhecimento das autoridades de Moscou de que não podem vencer as de Kiev militarmente. E que Vladimir Putin está disposto a causar catástrofes humanitárias e ambientais para adiar a derrota.
Em 16 meses de conflito armado, são vários avanços e recuos em ambos os lados. Na primeira fase da campanha (fevereiro de 2022), o objetivo russo era tomar toda o país vizinho. Como isso se mostrou impossível, em setembro do ano passado Pútin restringiu seu objetivo à anexação de partes do Leste e do Sul.
Em outubro, a implosão da ponte de Kerch, que liga a Crimeia à Rússia, mostrou que os ucranianos não se acomodariam a esse redesenho do mapa. Putin passou então a atacar a infraestrutura de eletricidade da Ucrânia, para induzir a população a desistir da resistência.
Assim como todas as outras estratégias de Putin nessa campanha, o efeito foi o contrário: só aumentou a determinação dos ucranianos. Naquele mês, o presidente Volodmir Zelenski acusou os russos de colocarem dinamites na barragem e pediu que observadores internacionais fossem ao local.
A Rússia bloqueou o acesso. Na semana passada (mais precisamente entre a noite de segunda e a manhã de terça-feira), quando a contraofensiva ucraniana era lançada, deu-se a confirmação do alerta: a barragem acabou implodida.
Análise
Ao menos seis elementos pesam na elucidação de um crime: provas materiais, confissão, testemunhas, motivação, oportunidade e antecedentes. Os três primeiros estão ausentes nesse caso, e os três últimos incriminam a Rússia.
– Motivação: a implosão da barragem conteve o avanço ucraniano no sul. Desviou recursos da guerra para o socorro aos flagelados. Matou um número ainda não contabilizado de ucranianos, deixou dezenas de milhares sem casa e centenas de milhares sem água.
Também puniu os ucranianos que viviam sob ocupação russa, na margem leste do Rio Dnipro, abandonados à própria sorte pelas autoridades russas. Inundou e espalhou químicos tóxicos e minas no solo mais fértil da Ucrânia, comprometendo por anos a sua produção agrícola, além de destruir os grãos armazenados.
– Oportunidade: só os russos poderiam dinamitar a barragem, porque controlam a área desde maio. Não houve disparos à distância contra a estrutura.
– Antecedentes: o líder soviético Josef Stalin (ídolo de Putin) fez a mesma coisa com a barragem de Zaporizhia em 1942, matando milhares de ucranianos, para conter o avanço nazista.
A implosão da barragem sugere que Putin não hesitaria, por exemplo, em causar um acidente na usina nuclear de Zaporizhia, também controlada pelos russos, diante de derrota iminente.
É por isso que a implosão leva o Ocidente a escalar a ajuda militar à Ucrânia, para libertar o quanto antes a usina e outros ativos estratégicos. Mais uma vez, Putin conseguirá o inverso do que almeja.