Domingo, 12 de outubro de 2025
Por Redação O Sul | 19 de março de 2020
A decisão tomada por líderes europeus de combater a expansão do coronavírus com o fechamento de fronteiras terrestres abertas 25 anos atrás deixou motoristas enfurecidos, mercadorias paradas e congestionamentos de quilômetros de extensão no coração de um continente acostumado a deixar seus residentes se deslocarem entre um país e outro sem verificações de documentos.
A promessa de que o transporte de mercadorias não seria interrompido pelas medidas parecia estar sendo gravemente descumprida na quarta-feira (18), especialmente na Hungria, país sem saída para o mar que de uma hora para outra virou um gargalo na Europa.
Na segunda-feira (16), o primeiro-ministro Viktor Orbán cumpriu sua promessa de fechar as fronteiras do país a todos os estrangeiros, deixando viajantes por terra parados e furiosos.
Depois de muitas companhias aéreas internacionais cancelarem voos, e os Estados Unidos terem proibido a entrada de passageiros da maior parte da Europa, os planos deram lugar a confusão, e os aeroportos viraram cenários de pânico e confusão.
Um cenário semelhante vem ocorrendo há dias nas rodovias europeias, mas em escala maior.
Num esforço para pressionar as autoridades a abrir o principal ponto de travessia da fronteira austro-húngara, búlgaros, romenos, sérvios e ucranianos de ambos os lados da fronteira saíram de seus carros e se sentaram sobre a via principal, impedindo a passagem de veículos em qualquer direção.
Os caminhões de transporte de mercadorias entre países como Polônia e Alemanha enfrentavam esperas de 30 horas. Eslovacos que trabalham na Hungria não sabem quando poderão voltar para casa, devido aos congestionamentos na fronteira húngaro-eslovaca.
“Não nos mexemos um metro sequer desde as 8h”, disse o caminhoneiro húngaro Janos Fenyvesi, 68, que estava sentado no congestionamento do lado austríaco da fronteira desde a tarde de terça-feira.
Ele transportava mercadorias da Suíça para Nyiregyhaza, no leste da Hungria, quando sua viagem foi interrompida abruptamente a 25 km da fronteira entre a Áustria e a Hungria.
“Não entendo por que a polícia austríaca não tirou essa gente da pista”, reclamou Fenyvesi, dizendo que um trajeto que ele normalmente cobriria em dois a três dias agora pode levar o dobro do tempo.
“Esses romenos não estão respeitando as leis da Áustria.”
A livre circulação de mercadorias e pessoas é um princípio fundamental da União Europeia, e uma semana atrás vários países, incluindo a Alemanha, ironizaram a decisão do presidente Donald Trump de fechar as fronteiras dos EUA à maior parte dos viajantes da Europa.
Mas, diante da escalada mundial dos casos de coronavírus, que até quarta-feira já haviam passado de 200 mil, alguns dos 26 países que integram o Acordo de Schengen, que define a Europa sem fronteiras internas, começaram a erguer controles e a barrar a passagem de não residentes e outros que não podiam comprovar a necessidade de entrar nesses países.
Orban, que retrata a Hungria como o histórico baluarte protetor da civilização cristã europeia, há muito tempo adota linha especialmente dura contra candidatos a asilo, reprimindo migrantes e, em 2015, fechando a fronteira sul de seu país com a Sérvia e a Croácia.
Desde o início da epidemia de coronavírus na Europa, o líder húngaro e seus aliados vêm aproveitando a presença da enfermidade no continente para atribuí-la à migração.
E a Hungria limitou o acesso dos candidatos a asilo às zonas de trânsito ao longo de sua fronteira sul.
Mas ao meio-dia da quarta-feira a estratégia dos manifestantes parecia ter surtido efeito. Karl Nehammer, o ministro austríaco do Interior, que desde a terça-feira estava em consultas com seu colega húngaro para buscar uma solução, anunciou que a Hungria reabrira sua fronteira, num esforço para reduzir o congestionamento.